8 de junho de 2018

Os Castelos do Rei Louco: Apoteose da Estrada Romântica

Ei-los.
Apoteótico o final da Estrada Romântica. Um clímax hipersensorial para o sentido da visão e para as sinapses nervosas que se processam no cérebro a formar pensamentos. Grandiosidade. Pasmo boquiaberto. A conjugação perfeita entre o espaço natural e a criação humana. As faldas dos Alpes e estas construções encantadas de contos de fadas: Neuschwanstein e, mais abaixo e mesmo em frente, Hohenschwangau. Surgem perante a vista na primeira linha ocular que separa a planície à volta da elevação repentina das montanhas. Pergunto-me como é que foi possível construir estas belezas de elegância nas escarpas florestadas destas montanhas? Não se trata de fortalezas brutas, construídas com propósitos defensores e atacantes. São palácios quase etéreos na envolvência verde que os abraça. Sintra no seu lugar original.
Deixamos o carro a quilómetros de distância. Estes castelos, ou palácios alcandorados nas alturas, são um magnete para turistas. São o sonho Disney, fora das disneylândias artificiais, que se vem visitar. Pares de noivos, reparo em espanto, vêm aqui de todos os lados trazendo os seus fotógrafos para se deixarem fotografar com estes castelos de conto de fadas por cenário (o preferido é, sem dúvida, Neuschwanstein). Vejo uns noivos asiáticos, talvez japoneses, e fotografo-os sendo fotografados pelo seu fotógrafo, igualmente asiático. Também quero uma foto destas. Quero cristalizar uma imagem de mim e depois uma imagem de mim e do meu marido tendo por detrás o castelo mais famoso e idealizado do mundo. Sucumbo à tentação de ser mais uma turista e não tanto a viajante que, às vezes, penso ser.
Fazemos a pé o caminho até às bilheteiras dos castelos que se encontram mesmo no sopé. No caminho vou verificando as hordas pasmas, como eu, pela felicidade de estarmos aqui. Acho que nem nas pirâmides vi turistas tão felizes (não, as pirâmides são um mau exemplo, ninguém fica realmente feliz nas pirâmides. É calor a mais, decepção a mais, turistas a mais, desorganização a mais. Aqui há serenidade).
Sabia que deveria comprar os bilhetes previamente. Não o fiz para não ser turista. Obviamente que, quando, por fim, chegamos às bilheteiras não há bilhetes para Neuschwanstein, como eu imaginava. Mas não me ralo. Evito o gigantismo da fila que espera o autocarro ou a carruagem para subir até à nesga de montanha onde, periclitante, o castelo parece repousar. Contento-me com a segunda escolha e, por sorte de não sei o quê ou como ou porquê, compro os últimos bilhetes disponíveis para Hohenschwangau. Sorte do "caraças!", debito em bom português num contentamento que me dura apenas uns instantes. A fila para os autocarros e as carruagens que sobem a ladeira até ao castelo é igualmente ciclópica. Não estou para filas e sei que o meu marido as abomina em igual dose. Subimos a pé e a vista... Deuses... Acho que estou em Walhalla.
Chegamos aos portões de Hohenschwangau. Sentamo-nos nuns degraus a absorver a sensação e a observar a turba turista de que fazemos parte. O nosso número de entrada, que aqui, ao contrário de nas pirâmides, é tudo feito com metódica germanidade, só será chamado daqui a duas horas. Seja.

2 comentários:

Dalma disse...

Depois de ler este seu post fui consultar o nosso Diário de Viagens para confirmar em que ano aí tínhamos estado com dois dos nossos filhos, dado que o terceiro ainda era bebé.
Foi precisamente em 15 de Agosto de 1983 atravessando o Tirol em direção à Áustria.
Nesse dia estava de “escrivão” o meu segundo filho, ainda com nove anos e escreveu, no Diário, a sua opinião sobre o Neuschwanstein Schloss: “achei este passeio uma boa “chance” para relembrar os contos de fadas da nossa infância... esta visita foi tão cultural quanto relaxante.”
Como não quero reavivar saudades, voltei a atar os cinco diários, onde estão as férias de 14 anos passadas por essa Europa... e guardei-os de novo.

Blondewithaphd disse...

Dalma,
Que "escrivão" fenomenal aí tem... Lindo.