31 de outubro de 2018
Figos da Índia e marmelada
E é por isto que ninguém me tira daqui deste meu campo. Batem-me à porta e entram figos da Índia e marmelada acabadinha de fazer. O Outono tem destas delícias e eu agradeço sorrindo... Obrigada.
27 de outubro de 2018
Rockefeller Plaza
Associamos o nome Rockefeller às grandes fortunas americanas. Rockefeller representa sucesso elevado ao zénite, triunfo e concretização no absoluto possível do sonho americano. Mas Rockefeller é também o olhar o próximo, aquele que não chegou lá acima. A Rockefeller Plaza é, para mim, um cadinho da multiculturalidade desta cidade. Convida à paragem e à contemplação de quem por lá passa. É deixar-se estar ali uns minutos só a observar. Gosto destas paragens para me dar à visão. Às vezes a visão pensa mais e fala mais do que a mente. Inspiro este pedaço da cidade antes de continuar a deambulação. Dar-se tempo é um luxo...
24 de outubro de 2018
Bryant Park: um grão de verde
Para o transeunte sem destino, Bryant Park é um oásis no meio do betão. Não é um Central Park, é um jardinzinho inesperado e bem-vindo, é um vislumbre verde que convida à pausa e à observação dos que aqui vêm fazer o intervalo da agitação da cidade. É-me um lugar simpático, tão que foi aqui que a dona da Blonde gravou um vídeo para coisas profissionais que faz quando não é a Blonde. Gravei em dois takes e, depois do segundo, os apreciadores do parque, que ali se quedaram a ver o que era aquela filmagem numa língua exótica bateram palmas. Levo esse instante como memória das vezes que fui descansar da cidade a Bryant Park.
Óasis...
Óasis...
20 de outubro de 2018
Até a Gucci é política
Estou diante do Waldorf Astoria. Quinta Avenida no seu mais top que há. em frente uma torre com nome infeliz de presidente. Ao lado a Gucci. Observo curiosa a cena. À frente da dita cuja torre, magotes de turistas curiosos, uns por admiração, outros por protesto e querem ir ver ao perto, outros porque o voyeurismo é um comportamento puramente humano, outros porque as selfies ficam bem ali naquele locus e outros, como eu, calharam de passar por ali e observam. Reparo que a Gucci tem um cartaz a imitar grafitti onde se lê em francês, não inglês, repare-se, "Liberté, Égalité, Sexualité".
Cada um que tire as suas conclusões...
Cada um que tire as suas conclusões...
17 de outubro de 2018
Amor à bandeira
Uma coisa que sinceramente admiro nos americanos é o amor orgulhoso e férreo que têm à bandeira. É-lhes súmula da identidade e usam-na até como decoração ostentada com garbo. têm a bandeira hasteada à porta de casa, no quintal, usam-na em t-shirts, almofadas, toalhas, loiça e tudo e tudo e tudo. Aqui, os patrícios mais entusiastas lá colocam a nossa bandeira à vista quando a selecção nacional ganha um jogo e vendê-mo-la em bugigangas chinesas aos turistas.
O amor à pátria é uma cosia admirável.
O amor à pátria é uma cosia admirável.
13 de outubro de 2018
Central Park
Se não fosse a poluição e o trânsito absolutamente insano, eu não me importava de morar em Nova Iorque. E onde é que eu gostaria de morar? Numa das avenidas viradas para Central Park. Algures ao pé do Guggenheim, ou do prédio onde morou a Jackie O., ou do museu de arte alemã e austríaca. No Dakota Building não gostaria muito por estar associado ao Lennon e ao seu assassinato mas dessem-me um TQualquer Coisa de frente para Central Park e eu de bom grado lá moraria. Mas só no Verão porque eu não gosto de neve e frio e, inclemência por inclemência, prefiro a humidade quente e pegajosa de Nova Iorque no Verão aos nevões do Inverno.
Central Park, esse pulmão mítico de Nova Iorque, era um antro nos anos 80 do século passado. Hobos, junkies, essas denominações para os desalojados e os viciados, faziam do parque o seu "terroir" e era ver este pedaço de verde como o local do crime de todas as "Baladas de Hill Street" e de todos os policiais de Hollywood, mesmo que Hollywood seja a um continente de distância. Depois veio o Mayor Giuliani, numa outra encarnação, e limpou o parque. Restituído à cidade, aos seus habitantes e aos turistas, Central Park é um pedaço de descanso numa cidade frenética. Ali, esquecemo-nos de onde estamos.
Central Park, esse pulmão mítico de Nova Iorque, era um antro nos anos 80 do século passado. Hobos, junkies, essas denominações para os desalojados e os viciados, faziam do parque o seu "terroir" e era ver este pedaço de verde como o local do crime de todas as "Baladas de Hill Street" e de todos os policiais de Hollywood, mesmo que Hollywood seja a um continente de distância. Depois veio o Mayor Giuliani, numa outra encarnação, e limpou o parque. Restituído à cidade, aos seus habitantes e aos turistas, Central Park é um pedaço de descanso numa cidade frenética. Ali, esquecemo-nos de onde estamos.
10 de outubro de 2018
O Flatiron Building
Nova Iorque é os seus edifícios, entidades providas de nome, identidade, individualidade. O Flatiron Building, literalmente, o ferro de engomar, é um deles. O aspecto triangular dá-lhe a imagem distintiva que o associa ao electrodoméstico comezinho e quotidiano. No entanto, nem há maior antítese. O Flatiron não tem nada de comezinho.
Localizado numa área de "prime real estate", onde o metro quadrado atinge somas exorbitantes demais para o entendimento da nossa comum mortalidade, o Flatiron está na charneira entre a opulência da Quinta Avenida e a boémia Broadway. Evocativo dos primórdios confiantes do século XX, foi acabado de construir em 1902, é uma ode ao poder do aço e do betão com aspirações ao belo e não meramente ao funcional. Tem o seu quê de simpático à vista e de menos arrogante no seu gigantismo face a outros vizinhos. Lá dentro aloja um dos maiores portentos editoriais do mundo, a Macmillan, curiosamente em mãos de um grupo alemão. Livros, aço, betão, a Quinta Avenida e Manhattan em dia de sol, o pensamento dessa comunhão não deixa de ser alegre.
Localizado numa área de "prime real estate", onde o metro quadrado atinge somas exorbitantes demais para o entendimento da nossa comum mortalidade, o Flatiron está na charneira entre a opulência da Quinta Avenida e a boémia Broadway. Evocativo dos primórdios confiantes do século XX, foi acabado de construir em 1902, é uma ode ao poder do aço e do betão com aspirações ao belo e não meramente ao funcional. Tem o seu quê de simpático à vista e de menos arrogante no seu gigantismo face a outros vizinhos. Lá dentro aloja um dos maiores portentos editoriais do mundo, a Macmillan, curiosamente em mãos de um grupo alemão. Livros, aço, betão, a Quinta Avenida e Manhattan em dia de sol, o pensamento dessa comunhão não deixa de ser alegre.
6 de outubro de 2018
Empire State
Quem vem a Nova Iorque pela primeira vez, palpita-me, sucumbe à tentação de subir ao topo do Empire State Building, o arranha-céus icónico com o mesmo nome do estado em que se localiza a cidade. O estado de Nova Iorque é o estado do império, sem que ninguém saiba o porquê da denominação. Já fui turista com essa tentação da subida. Sofredora de vertigens como sou, agarrei o medo e lá me aventurei rumo à altura. Naquele tempo, havia as vistas para as Twin Towers e tudo se menorizava no contraste com aquela verticalidade a pique. Havia vento, muito vento, e o vento puxa à vertigem. Vi o azul do rio e uma minúscula, se bem que continuamente imponente, Estátua da Liberdade. Desci, contente por vencer pavores que, para mim, nada têm de irracional, e feliz por ter feito um visto numa quadrícula de coisas imprescindíveis em Nova Iorque.
Os anos passaram. Nada me chama a empreender a subida em elevadores ultra-rápidos com a promessa da vista fascinante sobre a cidade que nunca dorme, que tudo pode e onde tudo se pode. Vejo o colosso agarrada ao solo, à distância ou a espreitar entre o emaranhado de prédios. Lembra-me sempre a época antitética em que foi construído, um tempo de recessão e, apesar de tudo, optimismo. O crash bolsista de 1929 aconteceu no ano antes do início da sua construção em Março de 1930. Treze meses depois era inaugurado. Posso não subir ao alto do Empire State mas, para mim, ele é a corporização do espírito americano...
Os anos passaram. Nada me chama a empreender a subida em elevadores ultra-rápidos com a promessa da vista fascinante sobre a cidade que nunca dorme, que tudo pode e onde tudo se pode. Vejo o colosso agarrada ao solo, à distância ou a espreitar entre o emaranhado de prédios. Lembra-me sempre a época antitética em que foi construído, um tempo de recessão e, apesar de tudo, optimismo. O crash bolsista de 1929 aconteceu no ano antes do início da sua construção em Março de 1930. Treze meses depois era inaugurado. Posso não subir ao alto do Empire State mas, para mim, ele é a corporização do espírito americano...
3 de outubro de 2018
As Twin Towers já lá não estão
A vida tem coincidências estranhas. Por uma dessas coincidências fui das últimas pessoas a ver as Torres Gémeas de pé. Estávamos em 2001, George W. Bush era presidente dos EUA e eu andava por Nova Iorque nesse Verão quente como o são todos os Verões nova-iorquinos. A notícia era incrível, no sentido de não poder ser credível. Vi um avião embater numa das Torres e pensei que se tratasse de uma coisa qualquer para um filme-catástrofe de Hollywood. Depois, num segundo pensamento, veio-me à mente que aquilo poderia ter sido um dos milhentos helicópteros privados que sobrevoam a cidade a cada instante. Teria sido um acidente qualquer com uma avioneta particular, qualquer coisa assim. Porém, a realidade transcendia qualquer proeza hollywoodesca. Foi dos dias mais terríveis de que tenho memória tirando as memórias tenebrosas que me ligam ao desaparecimento da minha Mãe.
No dia seguinte às Torres caírem, todo o meu corpo doía, amassado que estava pela incredulidade daquelas horas de horror.
Todos estes anos depois, o Ground Zero já não é uma ferida no skyline desta cidade. Não consigo lá ir. Vejo à distância o que se reconstruiu, o que se reergueu mas não consigo ir pisar aquele chão. Há dias que nunca nos sairão da memória...
No dia seguinte às Torres caírem, todo o meu corpo doía, amassado que estava pela incredulidade daquelas horas de horror.
Todos estes anos depois, o Ground Zero já não é uma ferida no skyline desta cidade. Não consigo lá ir. Vejo à distância o que se reconstruiu, o que se reergueu mas não consigo ir pisar aquele chão. Há dias que nunca nos sairão da memória...
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