Era sexta-feira quando o telefone tocou. A voz do outro lado dizia que tinhas morrido. Tinhas morrido, imagina! como se tu pudesses morrer assim sem mais nem menos. Mas era isso que eu ouvia: tinhas morrido. O choque foi paradoxal. Levou uns momentos a instalar-se ao mesmo tempo que era súbito. De repente tinhas-me-nos morrido e eu não sabia o que fazer com essa realidade.
Telefonei a gente que te tinha em comum comigo e era voz de desalento e surpresa o que eu ouvia.
Vesti-me de linda para ir ter contigo à noite como nas vezes em que saíamos e tu me achavas bonita. Só tu para me fazeres rir no teu velório. só tu para me dares uma derradeira despedida desconstruída para nos rirmos sonoramente. Entrei no velório errado, um daqueles velórios do excesso de morte. Eu linda e tudo e todos em modo sorumbático de olhares de estranheza à minha aparição. Achei aquilo tudo mórbido demais mas enfim, era o teu velório e aquelas pessoas que eu não conhecia tinham tanto direito a conhecer-te como eu.
O outro Pedro da minha vida deixou-me estar nos meus pensamentos que falavam contigo. Deu-me tempo antes de, de mansinho, me tocar no ombro e me dizer que eu estava no velório da pessoa errada. Saí envergonhada e meio a pensar que me deviam ter considerado qualquer coisa como "a outra" que se ia despedir. Ri baixinho pela situação trágico-cómica.
Depois encontrei-te ao som de Sting e das músicas que gostavas e que comigo partilhavas quando me fazias CDs com as tuas playlists. Sempre tiveste bom-gosto nesse departamento. Tinhas chamado os amigos e era como se nos encontrássemos para um serão em que eras o anfitrião. Despedi-me de ti por entre o sorriso da cena anterior e o coração despedaçado.
No dia seguinte, fui ao ginásio, como costumo aos Sábados de manhã. No final da aula, os alongamentos foram feitos ao som de uma música que me lembrou de ti. Desabei em público porque foi aquela música que me disse que nunca mais aqui estarias fisicamente. Recebi tanto amor nessa hora. As colegas da aula, que por respeito à tristeza que imaginavam eu estaria a sentir, não tinham tocado no assunto da tua morte, saltaram sobre mim num abraço colectivo. O meu luto por ti começava.
Passou um ano e eu lembro-me tantas vezes de ti...
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