16 de fevereiro de 2019

Na casa da Harriet Beecher-Stowe

Não é a primeira vez que venho a Hartford, capital do Estado do Connecticut, e sempre que venho é por causa de dois escritores, Harriet Beecher-Stowe e Mark Twain que aqui têm, ou tiveram, casa lado-a-lado, embora não tenham sido vizinhos contemporâneos, bem só um niquinho.
Beecher-Stowe (1811-1896) era uma dona-de-casa burguesa que é hoje conhecida por ter escrito "A Cabana do Pai Tomás" (1852), um dos primeiros textos de ficção a retratar as condições sub-humanas em que se processava a existência dos africano-americanos, sobretudo em regime de escravidão. Ficou-lhe a fama de abolicionista e, mérito lhe seja dado, o livro foi outra das faúlhas que acenderam o fogo que desembocaria na Guerra Civil Norte-Americana. Não estamos perante um génio literário, estamos perante alguém que se condoeu com a dor do Outro e lhe deu voz. Vir aqui é prestar homenagem.
A casa de Beecher-Stowe é hoje um museu, tal como a mais imponente casa ao lado. É uma casa discreta e calma, diferente da de Twain, ostensiva e berrante. É uma casa feminina. Na última sala, dedicada à obra de Stowe e às traduções de que foi alvo, detenho-me na coincidência de estarem juntas a tradução portuguesa e a alemã. Essa é, também, a a minha coincidência de vida e acho piada quando vejo estas materializações coincidentes.

2 comentários:

Dalma disse...

O que eu chorei qd ainda menina li a “Cabana do Pai Tomás”!
Eu tb gosto de visitar as casas de escritores, o meu marido, com mente de engenheiro prefere, de passagem pelas fábricas, tentar adivinhar o que lá se produz!!
Que me lembre visitei a de Hemingway em Key West, a de Steinbeck em Salinas (CA) e a de Elizabeth Montgomery, autora do livro Anne Shirley, em Prince Edward Island na Nova Scotia (Canadá).
Aquela de que mais gostei, talvez por ser a mais completa foi a de Steinbeck!
Concordo que tb eu tenho sido abençoada pelas oportunidades que tenho tido!

Mariana disse...

Caríssima Blonde
Tertúlias e coincidências de vida! Nas férias de verão passadas na casa dos avós com toda a família reunida havia imensa diversão na mesma proporção de deveres telúricos.
O Avô era senhor de uma biblioteca à altura da sua sabedoria, cultura e profissão e, no início das férias escolhia 2 livros que entregava a cada um dos netos. Ora nós éramos 5 o que perfazia 10 livros que nós os petizes tínhamos que ler , ponto final! Aos 4/5 anos já eu lia como gente grande! Ah, depois “dissertávamos”, sobre a nossa visão infantil e individual do que liàmos em tertúlias que o avô organizava no final da tarde e sempre antes do jantar. Recordo O meu pé de laranja lima , O navio de Cristal de José Mauro de Vasconcelos, Alice Do Outro Lado do Espelho, etc. O que me marcou mais foi um livro que só o avô lia para nós e que era a primeira edição de Mariazinha em África de Fernanda de Castro com ilustrações de Sarah Afonso mulher de Almada Negreiros . Anos mais tarde ofereceu-mo o qual guardo como uma relíquia . Questiono-me como pessoa de números e economia o que me faz colecionar O Pequeno Príncipe em várias línguas. Conto para cima de 80 edições, acredite!