29 de maio de 2019

Real Maestranza

Goste-se ou não de toiros, não se vai a Sevilha sem passar pela Real Maestranza, catedral-mor da tauromaquia e dessa afición de tardes soalheiras em que homens e bichos fazem arte de uma luta milenar.
Passo por aqui apenas para sentir um pouco desse ar aficionado que aqui se respira. não é uma praça como as nossas, isolada. Faz parte do tecido urbano, fundindo-se com o casario à volta, de tal forma que passa despercebida se a vermos do lado de trás, o lado da rua comercial. Parece mais um outro prédio e nada mais. Só de frente é que lhe apercebemos o lado monumental. Surpreendo-me ao ver que tem uma biblioteca lá dentro. devidamente assinalada, presumo que seja um tesouro de livros e palavras dedicados a esta arte que envolve três espécies de seres viventes: homens, cavalos, toiros. Dou a volta, respeito e vou-me embora, deixando aos turistas as vistas da arena e o tour pelo dédalo da praça.

25 de maio de 2019

Na catedral de Sevilha em busca do que não está lá

A ingenuidade faz-nos, muitas vezes, fazer figuras ridículas.
Da primeira vez que vim a Sevilha, a catedral foi logo das coisas que tive de ver para início de jornada. É imponente, como se esperaria de uma das maiores catedrais do mundo e a maior de estilo gótico. Não espanta a sua atribuição UNESCO como património da Humanidade. Lembro-me de ver o túmulo de Colombo que achei horrível na sua cor negra e estilo pesado e algo lúgubre e, de resto, lembro-me, apenas, de os meus olhos a verem na similitude a outras catedrais de imponência e magestade. Desta vez, a Páscoa, que por estes dias se celebra, torna a catedral uma inacessibilidade. Filas de turistas dão a entender as horas que terei de esperar à chapa deste sol de Abril para ver repetições e evito a entrada principal. Prefiro uma das capelas secundárias deste colosso religioso e entro para um breve recolhimento mais do que uma passagem turística. É nessa capela lateral que, vendo um segurança da catedral, dele me abeiro a perguntar se, dentro deste monumento, existe alguma imagem da Virgem Macarena, santa de especial devoção sevilhana. Olha-me em observação entre o incrédulo e o paternalista pela parva da turista loura que ousa semelhante questão.
- Sabe onde posso encontrar uma imagem da Virgem Macarena? - pergunto no meu eu mais ignorante e desejoso de informação, pensando que haverá semelhante imagem nesta catedral de múltiplas virgens e santos.
- Na igreja da Macarena - responde atónito.
- E onde é isso?
- Na Igreja da Macarena - afirma em total e absoluta secura, dando-me, nesse súbito momento, o lampejo que me ocorre no cérebro acordado para o facto de que eu sou uma parva pois, naturalmente que tem de haver uma igreja, Igreja, da Virgem Macarena.
- E onde é isso?
- Aqui.
- Sim, aqui onde?
- Aqui, em Sevilha - continua, seráfico.
Só quando lhe pergunto como, qual o caminho para lá, é que se condói de mim e da minha santa ignorância e, fazendo-me um cristão favor, indica-me o caminho avisando-me de que a Igreja da Macarena é "muito" longe da catedral. Não faz mal. Eu sou turista e os turistas fartam-se de andar. Nessa andança, descobrirei que, afinal, a Igreja da Macarena não assim tão distante da Catedral de Santa Maria da Sede, essa outra virgem. Ou seja, vim à catedral saber da Igreja da Macarena. ele há coincidências destas na vida de um turista.

22 de maio de 2019

El Cid

Mais imponente do que a Avenida de Portugal é, e justificadamente, a Avenida El Cid. Porquê justificadamente? El Cid é um dos grandes heróis míticos de Espanha, um dos guerreiros lendários dos tempos da Reconquista que, como se sabe, tomou mais tempo aos espanhóis do que aos portugueses, sobretudo aqui na Andaluzia, palavra ainda muito árabe que se refere a Al Andaluz, a Ibéria muçulmana.
Quando eu era pequena dava na televisão uma série infanto-juvenil chamada "Rui, o Pequeno Cid", ainda me lembro da canção do genérico. Era sobre a vida do Cid enquanto criança e de como, nesses infantes tempos, já era um herói pelejador contra mouros e quaisquer inimigos do Bem. Na verdade, o Cid real chamava, não Rui, mas Rodrigo Díaz de Vivar. Terá nascido em Burgos em 1043 e morrido ao Sul, nos territórios da então fronteira moura, em Valência em 1099. Cid, vem da palavra árabe "sidi" que significa "senhor". Curioso como os inimigos o apelidaram em reconhecimento da valentia. Lendas àparte, e não obstante a sua vida ter episódios dignos e outros tenebrosos, o certo é que deparar-me aqui com a Avenida El Cid me acorda todo um imaginário. Liga-me à infância, ao meu gosto por História Medieval, aos primórdios da criação destes dois países ibéricos e lembra-me, também, que estou numa cidade monumental que venho revisitar com olhos de primeira vez.

18 de maio de 2019

Portugal em Espanha

Como Portugal só tem um vizinho, quando tenho a sorte de ter uns diazinhos para mim, o caminho natural é Espanha (quando não me decido em favor da eterna paixão pelo Alentejo). Desta vez, sigo o rumo da Andaluzia que, a meu ver, é das regiões que melhor encarna o estereótipo do salero espanhol. E, claro, Andaluzia na quadra pascal é toda uma experiência.
Começo por Sevilha. Uma revisitação e a primeira vez que lá vou sem ser pela torreira do Verão. O céu está maravilhoso. A temperatura quente mas suportável. a manhã é gloriosa e, mal saio do hotel, faço a pé as avenidas que levam até ao casco histórico da cidade. No caminho, o encontro inesperado com a lembrança de casa. Chama-se avenida de Portugal e eu fico contente por não nos ser dada uma rua mas toda uma avenida. Viva a Ibéria!

15 de maio de 2019

Nada como a Natureza

Nada como a pujante Natureza em flor para me abstrair da raiva dos últimos dias. Aqui uma árvore florida em plena Sevilha já fervendo de calor.

12 de maio de 2019

E agora não sou estrangeira nem portuguesa

Esta foi uma semana de estranhezas. Primeiro, excluíram-me de um concurso para cidadãos portugueses porque eu não nasci em Portugal, apesar de ser portuguesa (até fui à Constituição ver os artigos violados por semelhante parvoíce: são vários). Agora, já que não me aceitam como portuguesa, fui tentar ser incluída num concurso para portugueses residentes no estrangeiro OU luso-descendentes. Pensei que, como nascida no estrangeiro seria luso-descendente. Afinal, também não posso participar nesse concurso porque resido em Portugal.
Alguém me diz que raio de cidadã eu sou perante este país que, por acaso, é o meu? 

8 de maio de 2019

São os portugueses que me fazem estrangeira

Estou lívida! Acabo de ser excluída de um concurso para cidadãos portugueses porque, por acaso, nasci fora de Portugal. Tendo, unica e exclusivamente, cidadania e nacionalidade portuguesas, mas, como não nasci cá, consideram-me estrangeira. Estou como se imagina que estou. Porque é que neste país, tudo o que faço ou sou tem de se submeter à circunstância do meu nascimento? Caramba!

5 de maio de 2019

Mães

Tenho uma sorte incrível. Há três mães na minha vida e isso é excepcional.
Há a Mãe, essa Tudo.
Há a minha irmã que vejo tão orgulhosamente mãe.
E há uma mãe que me adoptou em amor.
As mães são, inequivocamente, o melhor do mundo.

1 de maio de 2019

Das coisas que se vêem no campo

Salva selvagem sempre me traz à memória recordações felizes de infância. Colho uma folha e cheiro, imediatamente transportada a um Tempo sem tempo. Sinto o macio penugento da folha e tudo é lembrança.