Apesar de duvidar que a classe docente do ensino básico e secundário alguma vez se solidarizasse com as lutas dos docentes do ensino superior (que são muitas e muito desconhecidas do grande público), nutro natural empatia pelas aspirações dos meus colegas dos outros níveis de ensino. No entanto, será que esta greve terá algum efeito? No quadro geral actual, duvido. É certo que uma greve a meio da semana é geradora de sentimentos mais benévolos pelo resto da sociedade. Mas, mesmo assim, apesar de manifestações e greves e descontentamentos que recebem enorme "air play" nos media, temo que o grande público ainda não percebeu porque, afinal, lutam os professores. Seria tão interessante se esta greve fosse simultaneamente adjuvada por um cabal esclarecimento à sociedade e não pelos mesmos discursos sindicalistas que, desculpem, pouco ou nada, trazem de elucidativo a não ser os eternos oposicionismos ao poder vigente.
6 comentários:
Cara Blondie
-Se existe greve bem explicada à população é esta dos professores. Toda a gente está contra um modelo de avaliação burocrático (entretanto tornado simplex), mas poucos falam no Estatuto da Carreira Docente. Sucessivos erros da ministra, agravados por inenarráveis figurões cujo expoente máximo será a girl carreirista da DREN, transformaram uma necessidade de mudança em oportunidade perdida. Neste momento é um por todos e todos contra a ministra, mas caso, ou melhor quando forem apresentadas propostas alternativas, muitos sindicalistas continuarão contra. Não se discute verdadeiramente o problema da educação em Portugal, que passa por uma óbvia necessidade de descentralizar poderes e competências (os boys and girls, sindicalistas e ideologicamente complexados estarão todos contra), envolvendo autarquias e famílias (através de associações), permitindo a cada escola escolher o seu corpo docente (a primeira e mais eficaz forma de avaliação), nomear os seus responsáveis exigindo-lhes resultados, fazer inclusivamente depender uma parte (mesmo que pequena) do financiamento dos resultados obtidos. Por cá luta-se pela preservação do eduquês, formando mediocres que mais tarde serão recuperados pelas novas oportunidades, ainda que o mercado de trabalho seja implacável, a tendência será para agravar, oferecendo baixos salários a quem não consegue produzir. Mas existem tantos modelos de avaliação por esse mundo fora, da Escandinávia à Europa central, Europa do Sul, EUA, Canadá, Austrália ou N.Zelândia, mas o governo optou pela originalidade (da qual resultou bizarria), porque nenhum estaria adequado à especificidade lusa. Lógico, algum outro país aposta no eduquês? Claro que não, mas os carreiristas boys and girls aceitam lá perder poder, descentralizando...
Querias o quê? Explicado a quem?
Primeiro, o modelo proposto é pesado e burocrático e de dif+icil entendimento; depois, mais que o modelo o que verdadeiramente se discute hoje é a distinção entre professores e a impossibilidade que resultou para estes (aliás, como para toda a Função Pública com o SIADAP) de todos ascenderem ao topo da carreira e depois de lá saírem para a merecida aposentação ... ora, isto é difícil de explicar mas, sobretudo, difícil de aceitar pela restante população que, bem ou mal, tem uma ideias algo distorcida de muitos professores!
Em parte culpa dos próprios que enquanto a coisa deu, deixaram correr o marfim.
A propósito da greve, por exemplo, na escola das minhas filhas muitos docentes tiveram a dignidade de avisar os alunos que não iam ter aulas ou o teste marcado faz tempos, mas outros deram a olímpica resposta que no dia e hora da aula, logo veriam!
Uma coisa é lutar por aquilo a que se julga ter direito ou que se tem mesmo direito, outra é a sobranceria em que alguns agentes da Educação se deixam envolver.
O inefável Nogueira ainda hoje, na TSF, proclamava que andavam há dois anos nisto e que só agora iam para a greve. Vincou não sei quantas vezes que só agora iam para a greve, mas também podia ter falado do que ele não fez para evitar tudo isto.
E a senhora ministra o mesmo ...
Ó António,
Mas alguém aposta na educação em Portugal? Alguém lhe dá prioridade na agenda política? Andava eu na faculdade e veio um governo dizer que tinha uma "paixão" pela educação: pois sim, viu-se!!! Eu acho que já nem ao eduquês chegamos quanto mais.
Quinn,
O que eu queria? Bem... se eu jogasse queria o Euromilhões, assim a seco, olha que se olhasse para a educação com honestidade já não era mau. Honestidade, não era preciso mais.
Amanhã vou pegar neste tema...
O que mais me aborrece é que a classe docente , aquando tudo estava mal mas corria bem (para eles) andaram caladitos que nem ratos , agora que tudo continua mal mas um mal que já lhes toca , já se manifestam.
Jokas loira kum kanudo :)
Discordo inteiramente do António Almeida. Esta greve e as futuras relativas aos professores e até outras de outros sectores nunca serão compreendidas nem explicadas à sociedade ou dificilmente o serão.
E, em parte, a culpa de essa fatalidade explica-a Eduardo Cintra Torres num artigo a seguir transcrito de análise do modo como o Governo Português há muito deixou de governar para passar a uma gestão bem diversa das questões e dos dossiês. Uma espécie de jogo do gato e do rato, uma exploração clamorosa das fragilidades adversárias, uma desproporção no acesso às peças de esse jogo.
Compreenderás melhor, lendo:
«A ideia de que as pressões sobre jornalistas, ou meras sugestões, partem apenas da central de propaganda do Governo é incorrecta. Uma boa parte desse trabalho é entregue a “agências de comunicação”. Essas “agências” são empresas que vendem um produto: propaganda dos seus clientes. Mas algumas não se limitam a encher os computadores dos jornalistas com informações já em forma de “notícias”, explicando o unicamente suposto lado bom da acção dos seus clientes. Fazem mais que isso. Organizam festas, inaugurações e lançamentos de Magalhães com o dinheiro dos clientes – ou dos contribuintes, caso o cliente seja o Estado. Telefonam a sugerir aos jornalistas que façam perguntas incómodas em directo a políticos que considerem adversários dos seus clientes. E fornecem às redacções e aos blogues “amigos” material e background favorável aos seus clientes e desfavorável aos outros. Inundados de informações e, se necessário, de rumores e insinuações, os jornalistas ficam apenas com um lado da questão. A enxurrada “informativa” facilmente inquina a sua possibilidade de averiguar mais completamente as questões, que entram na agenda mediática deformadas, e deformadas prosseguem até à sua substituição por outras. Para o poder político, as “agência de comunicação” têm a vantagem de diluir o destino do dinheiro destinado à sua propaganda. Como um governo não pode “comprar” jornalistas, arranjou-se o processo de pagar a “agências”, sendo estas que usam o nosso dinheiro de formas que dificilmente viremos a conhecer. Tudo isto é fado, tudo isto é lobbying, claro, um nome lindo para uma actividade que tantas vezes pode ser suja. Sendo as “agências de comunicação” empresas que recebem dinheiro para inclinar a informação jornalística para o lado dos seus clientes, o jornalismo nunca deveria esquecer, ao receber-se um email, um comunicado ou um telefonema de uma agência de comunicação, que tudo isso foi pago pelo cliente que quer “boa imprensa” para si e amiúde “má imprensa” para os adversários. As “agências” recebem do seu cliente quaisquer que sejam os métodos que usem (e que podem ser vedados legalmente a governantes e políticos). Não são perseguidas judicialmente nem de qualquer outra forma. Ficam sempre a ganhar, e bem. Já o jornalismo é abusado e fica sempre a perder. Ao seguir indicações das “agências de comunicação”, um jornalista pode facilmente fazer uma informação que é mais pobre ou mesmo enviesada. E é ele quem dá a cara. Quem passa por fazer fretes. Se houver problemas, é ele que os enfrenta. Entretanto, nas agências de propaganda, arrecadam-se lucros por vezes fabulosos e teoriza-se sobre a sua “científica” actividade das “relações públicas”. Este quadro é particularmente gravoso na actualidade, porque o Governo parece estar empenhado na acção de comunicação comprada no mercado das “agências”. Estas chegam a substituir as funções dos assessores de imprensa dos ministérios e agem em conjunto com a central de propaganda. Não tendo a oposição ou outras partes envolvidas nas notícias acesso aos mesmos orçamentos de propaganda para pagar a “agências de comunicação” concorrentes, o fluxo de eventos, powerpoints e de teleponto, de emails, comunicados e chamadas de telefones das agências para os jornalistas cria um grande desequilíbrio. Isso depois nota-se, e muito, quando se lê os jornais, se ouve a rádio e se vê televisão – e até quando se lê blogues claramente ligados à central de propaganda. Parece que estamos na Rússia: a “informação” vem quase toda do mesmo lado. Criam-se “ondas” de opinião publicada que leva a maioria dos comentadores a criticar muitíssimo mais a oposição do que o poder executivo, o que é um padrão altamente atípico nos regimes democráticos. À parte alguns aspectos da política da Educação, a governação pouco é criticada, quanto mais escrutinada. Não há crise nem recessão. Aliás, a crise é “favorável” ao Governo, o que, seguindo alguns comentadores, parece tornar a crise excelente para todos. A política financeira está correcta, o Financial Times é que está enviesado. É excelente que o Orçamento seja optimista em vez de realista. Na Saúde agora está tudo ok: a ministra “explica tudo muito bem”, mesmo que tenha ocultado o défice ao Parlamento. No Ambiente corre tudo bem. Na Economia também. Nos Negócios Estrangeiros também. Na Defesa também. Na Cultura também. No Trabalho também. Na Administração Interna está tudo bem outra vez. O desemprego aumenta pouco e, vistas as coisas por outro prisma, até desce. O desemprego entre os milhões que andam a recibos verdes não existe. A emigração causada pela política económica é uma invenção. A fuga do investimento estrangeiro não é importante. O Governo faz os possíveis. A oposição é toda desastrosa: a sociedade civil, os sindicatos, o PSD, o PCP, o CDS, excepto o BE, enquanto houver esperança de aliança com o PS. Como queria Salazar, tenta-se “levar os portugueses a viver habitualmente” com este sufoco informativo.»
«Com a crise, as pessoas têm de entreter mais com o que é de borla, a televisão. Mas mais audiência não significa mais receitas, se não crescer a publicidade e se os canais fizerem descontos patéticos nas suas próprias tabelas de preços, como vem sucedendo. A crise no sector televisivo notou-se em primeiro lugar na SIC, porque já vinha caindo na audimetria. Mas, apesar de terminar o ano em segundo, a sua passagem ao terceiro lugar nas audiências três meses consecutivos estabelece um novo padrão. A SIC perde para a RTP1 em primeiro lugar por causa do futebol da Liga, um negócio milionário da RTP1 com o dinheiro dos contribuintes, de contornos obscuros e ainda por esclarecer. Em segundo lugar, porque da RTP1 desapareceram programas do prime time de maior interesse e menor audiência, como os de António Barreto. Em terceiro lugar, pela falta de comparência dos dois privados em áreas que não as telenovelas. Em quarto lugar, porque o orçamento de programação da RTP depende das transferências que o Estado garante e não, como nos concorrentes, das receitas publicitárias: nos privados, sem dinheiro não há palhaços, enquanto à RTP continua a chegar o dinheiro dos palhaços. A quebra de receitas obriga os privados a acabar com programas que não geram publicidade suficiente, caso, na SIC, do Momento da Verdade, da Roda da Sorte e, a partir de Junho, de Rebelde Way. O Momento da Verdade acabou. E ainda bem — porque era mau e porque levou alguns a clamarem pelo regresso da censura. Quanto à Roda da Sorte e a Rebelde Way, não conseguiram fazer frente respectivamente ao Preço Certo da RTP1 e aos Morangos com Açúcar da TVI, mais adequados aos públicos-alvos. Para a queda da SIC poderá ter contribuído a reorientação da sua informação a favor do poder, o que não estava de acordo com a imagem que criou ao longo dos anos. Nos últimos meses, a SIC e a SICN começaram a alinhar com os interesses informativos do Governo, a ponto de se verificar uns sistemáticos alinhamento e servidão nos momentos em que mais interessava ao poder.»
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