30 de junho de 2009
Na ressaca da nostalgia
E foi para dar de beber à dor que vim escrever para o blog (esse alter-ego sem o meu nome) o que, de jacto, me ia na alma: as sensações avassaladoras de um passado que eternamente se repercute no presente, uma dor crónica domesticada, controlada, familiar e, por isso, nada medonha, mas que, apesar de tudo, irrompe de vez em quando a precisar de atenção. Escrevi e desliguei. As palavras saíram e eu fechei-me a elas. Já estavam cá fora. A dor bebeu, saciou-se, apaziguou-se para regressar ao confim do coração onde habitualmente reside. Dei-lhe o dia de ontem, fui generosa, maternal, até, no carinho com que a tratei.
Regresso ao blog. Deparo-me com os comentários de gente em lágrimas, gente que afaga a minha dor, que teme a sua, que partilha os receios de um futuro que promete esta mesma dor ou que a revisita num passado de perdas semelhantes. Noto um adjectivo recorrente: "esmagado", verbalizado tanto no masculino como no feminino. Acarinho os comentários: gente que me conhece (e que até conheceu a Mãe), gente que não me imagina, gente que eu conheço sem que haja a reciprocidade do conhecimento, gente que aqui vem pela primeira vez e parou, gente que se habituou a vir aqui (and only God knows why). E sabem o que noto? Que a nossa humanidade primordial é absolutamente transversal. Alegro-me numa sensação tépida por essa transversalidade fascinante e benévola. E noto, ainda, que, como sempre, a Mãe conjura o que de melhor temos e que, de um modo ou de outro, conhecendo-a ou não, o que a Ela se associa é intrinsecamente humano e belo.
29 de junho de 2009
Porque já são 11 anos...
- Mutti, não te prendas por nós. Segue. Vai ser feliz. Não fiques triste se nos vires chorar. Nós somos fortes e tu sabes isso. Adoro-te Mutti linda, mas tens de ir. Não fiques aqui. Não fiques por nós. Sabes que eu olho por eles. Nunca, mas nunca te preocupes. Vai Mãe... Vai...
A Mãe morreu três horas depois de eu ter tido a coragem para deixar o egoísmo de a ter aqui. Levei tantos dias a mentalizar-me que deveria ter esta conversa com ela. Todos os dias eu entrava naquele quarto e todos os dias eu pensava que teria de deixá-la ir. O Pai e a Mana não entravam. A Mãe jorrava Amor e jovialidade, aquela graça natural que nos deixava presos num encantamento, não importava se fôssemos humanos ou animais, pequenos, grandes, todos nos apaixonávamos por Ela. E era por isso, talvez, que o Pai e a Mana não entravam naquele quarto nos últimos dias em que Mãe esteve nesta Terra. Não a queriam contemplar naquela vida sem vida. Ficavam à espera as horas que eu estivesse com ela lá dentro do quarto. E eu ali ficava a olhar para ela. Cheirava-lhe a pele doce e morna e pedia a Deus para nunca me esquecer daquele cheiro.
Naquele dia, depois de várias horas a lutar contra mim, decidi falar-lhe. Tive tanto medo. Tão pouca coragem. Sabia que nunca mais ia sentir aquele cheiro e aquele calor que a envolviam num halo de Vida. Pensava que a despedida invocasse palavras grandiosas mas só me saíram frases curtas, banais. Que guiões existem que nos digam o que dizer na última vez que estamos junto do Ser que mais amamos? O que é que se diz quando tudo é derradeiro na mortalidade e não há regresso? E depois, depois eu já lhe tinha dito tudo quando falávamos horas esquecidas em tardes longas sem fim. Era tão bom falar com Ela.
A Mãe tinha aquele intelecto fino, desenvolto que lhe permitia a abstracção mental e podíamos falar horas a fio de Teologia e Cosmologia, da finitude e do infinito. Desde que Ela morreu nunca mais tive conversas destas com ninguém. Ninguém fala com aquele nível de profundidade. E que saudades eu tenho dessas conversas... Também lhe disse muitas vezes que a amava e agradeci-lhe sempre ter-me dado a Mana. Não ficaram palavras por dizer, sentimentos não verbalizados. Daí a despedida ter tão pouco para dizer.
Quando o telefone tocou, eu já sabia. Não foram precisas palavras para dizer ao Pai ou à Mana. Dentro de mim fiquei contente: agora eu poderia voltar a falar com a Mãe sem estar naquela incerteza humana se os estados de coma superficial permitem a audição. Agora eu tinha a certeza de que na incorporalidade Ela me ouvia. Ela, que me ensinou esta língua nos versos do Pessoa e que me falava em alemão tantas vezes, agora ouvia-me.
Peguei na água de colónia que ela toda a vida usou, 4711, dois pares de sapatos, duas mudas de roupa, uma em rosa outra em azul, e no estojo da maquilhagem dela. Fui ter com Ela à morgue onde a depositariam. Eu jamais permitiria que Ela estivesse lá sózinha, tratada por estranhos, gente que desconhecia quem era Ela e a sua imensa capacidade de amar. Na minha voz calma e determinada deixaram-me entrar.
- Por favor, é a minha Mãe que aí está. Falo com o Director ou com quem for preciso. Não faço cenas. Mas deixe-me entrar, por favor.
Tiraram-na de uma gaveta grande na parede. Fiquei aliviada por não a ter encontrado naquele corpo de olhar vítreo. Estava tão gelada a pele dela. Não cheirava a nada. Ela já ali não morava e eu fiquei feliz por isso. Perfumei-a. Penteei-a. Escolhi o vestido azul às flores que lhe ficava tão bem naquele cabelo louro de veludo, calcei-lhe os sapatos beige. Dei-lhe um beijo na testa e sussurei-lhe ao ouvido o refrão de uma canção do Freddy Mercury que ela adorava: "The show must go on". The show must go on, Mutti.
Depois pedi que a depositassem na urna. Fizeram-no com tanto respeito, tanto esmero, em silêncio. Pedi que fechassem o caixão. Só eu a veria sem vida, sem a sua joie de vivre. Não poderia deixar que o Pai e a Mana a vissem a dormir sem estar a dormir. O Pai não aguentaria e a Mana era tão novinha para ser confrontada com imagens que nunca mais seriam apagadas, tão novinha.
No ano passado, e somente no ano passado, a Mana disse-me que teve com a Mãe a mesma conversa que eu tive uma semana antes da minha coragem para me despedir. Quando ela me divulgou aquilo, senti uma sombra percorrer-me a alma: a Mãe esperou que eu me despedisse, a Mãe viveu na vida sem vida até eu me despedir. Acredito na eternidade do Amor, na força incomensurável do Amor, o Amor que tudo pode, que tudo vence.
Hoje chove e eu estou melancólica. Meto em palavras as saudades que vivem comigo a cada segundo desde aquele dia soalheiro de Junho. Tenho tantas saudades...
28 de junho de 2009
Blonde e Breadmachine - A Saga Continua...
27 de junho de 2009
Blonde Next Portuguese Idol - The Sequel
Mas pronto, lá fui recrutada. Só não sei ainda se me apetece muito investir em cantorias e ir re-estudar os meus antigos livros de música. É que, agora, olho para uma pauta e levo eternidades a ler uma linha (ok, lá vejo o compasso, a clave e esses básicos, agora ler, ler é que é tramado - chego a contar as notas pelos dedos, ridículo!). Enfim, a ver vamos... (pior do que as minhas aulas de sax-alto não vai ser, de certeza).
25 de junho de 2009
A minha bread machine
23 de junho de 2009
A data das eleições
22 de junho de 2009
Sempre as Louras...
21 de junho de 2009
Veggie Blonde Quiche
18 de junho de 2009
Blonde "Next Portuguese Idol"
Hoje tenho uma audição! E estou com uns nervos desgraçados! (HELP!!!)
Tudo começou há duas semanas atrás quando alguém me ouviu cantar no ginásio (as vergonhas da minha vida: a tipa a esmifrar-se nos abdominais e a cantar "Mercy" da Duffy, só mesmo uma idiota comme moi!).
- A Senhora canta tão bem! Já cantou alguma vez?
- ?! - Sinto o neurónio enrolar-se num nó. - Bem..., quer dizer..., eu já cantei num coro, mas era mais para fazer um favor ao Pe. Faustino do que pelos meus dotes vocais.
- Apareça dia 18 em X lugar. Gostava de ouvi-la cantar.
E desta feita, aqui estou eu em estado nervoso miudinho. Fui desencantar os meus catrapázios de música de quando estudava com o Maestro Guttenberg e pensei em cantar o "Hallelujah" do Leonard Cohen na versão da Alexandra Burke. Dei-lhe uma volta na última estrofe por causa do último verso (nem todos temos vozes de quatro oitavas como o Michael Bolton, não é?).
Rezem para eu não fazer uma triste figurinha... (pelo menos não maior do que o habitual:))
Actualização de última hora: Audição adiada para Quinta-feira que vem! Não vou aguentar outra semana de nervos! Dêem-me palestras e conferências que isto é insuportável! Ah, e obrigada pelos votos de simpatia com a minha triste pessoa!
16 de junho de 2009
"Campanhar" para a maioria
Olho para isto tudo e desapontadamente, mas já sem a surpresa ou o incómodo do desapontamento, e nem penso. Vejo a política num aquário e eu, de fora, apenas vejo, vejo, vejo e não há nada para ver.
15 de junho de 2009
Mas qual efeito de estufa??!!
14 de junho de 2009
Arroz-Doce de Coco à la Blonde
Eis, portanto, o que o seu génio criativo nas artes culinárias inventou.
Arroz-Doce de Coco à la Blonde
Ingredientes:
1 lata de leite de coco
1/2 medida da lata de leite de coco de água
Arroz que dê para a quantidade de líquido (a coisa à la Blonde funciona a olhómetro)
2 chávenas de café de açúcar (é o que der para adoçar e basicamente aplica-se a técnica do olhómetro)
Casca de um limão médio (no caso acabado de apanhar da árvore)
1 colher de sopa de coco ralado
1 pau de canela
1/2 colher de café de canela em pó
1 pitada de sal
Numa panelinha de ir ao lume juntar o leite de coco, a água, o pau de canela e a casca de limão. Deixar levantar fervura e juntar uma pitadinha de sal. Deixar ferver 2 ou 3 minutos. Juntar o arroz lavado. Deixar ferver em lume brando uns 15 minutos. Juntar o açúcar, a canela em pó, o coco ralado e deixar cozer, mexendo de vez em quando. Quando o arroz estiver cozido mas ainda caldoso, retirar do lume e verter em tacinhas (logicamente retirando o pau de canela e a casca de limão). Polvilhar com canela a gosto.
Desta vez excedi-me! (Ui, que falta de modéstia!) Ok, o fogão ficou ligeiramente impróprio para consumo, mas, de resto, a coisa até correu bem: sem truques, sem Bimbies, só Blonde e a colher de pau! Delicioso!!
12 de junho de 2009
Pai de Blonde e Cabelos em Pé
8 de junho de 2009
Lavagem de alma...
"Traz roupa prática que se possa sujar, sapatos rasos ou ténis que te vamos pôr a trabalhar e traz algo mais finório se sairmos à noite" - diz no mail. Passo a semana em alegre antecipação de um fim-de-semana perdido no Alentejo e imagino-me a regar tomateiros e a apascentar ovelhas.
4 de junho de 2009
As emoções são como as cerejas
2 de junho de 2009
Bancos e dinheiros
Sim, eu que gozo com a minha lourice e até chamo ao blog a Loura doutorada, tenho de admitir que sou mesmo burra, sem gozos, sem ironias. Burra, ponto final.