30 de outubro de 2013

Detesto/Amo

Detesto:
O raio desta hora de Inverno.
O raio de estar a ficar frio.

Amo:
O meu novo recuperador de calor.

28 de outubro de 2013

Pelos 3 anos do Manel



Manel,
I have loved you for a thousand years, I'll love you for a thousand more...
E sabes (claro que sabes), era esta canção que estava a tocar naquele final de tarde de Verão da primeira vez que a Tia te foi buscar à D. Celeste. A Tia nunca tinha conduzido com um bebé no carro e olhava para ti pelo espelho retrovisor e via-te a olhar de volta e imaginava que pensasses: " O que é que a minha Tia hoje veio aqui fazer? Este carro não me é nada familiar." Depois a Tia cantou-te esta canção e achou que há coincidências cósmicas. You see, it's true that I have loved you forever and that I will love you forever.
Que bom, Manel, que bom que já aqui estás há três anos.
Tia

PS - Livra-te de alguma vez na vida gostares de filmes como o da banda sonora desta canção, estamos conversados?

25 de outubro de 2013

De modo que vou-me matando o Alemão

Continuo nas arrumações da biblioteca-escritório e vou-me dando conta de que ou já fui muitas pessoas, ou já vivi muito, ou, então, cheguei a um promontório qualquer donde contemplo passados. Acho esta última hipótese mais tentadora. Decidi-me a expurgar coisas como se a bagagem fosse pesada demais. Pergunto-me o com que direito ando a fazer o que faço. Com que direito atiro fora livros de cálculo e engenharia que eram do Pai e da Ciência dos anos '60? Penso, selvaticamente acho, que nunca serão precisos, que estão ultrapassados, que nunca mais foram usados, que já não dizem nada. Penso depois que sou egoísta e que estas escolhas são imanentemente egoístas. E se os meus sobrinhos um dia aprenderem Alemão ou se quiserem saber da história da Ciência e do Avô? que direito tenho de fazer estas escolhas? O que fica e o que não: pareço deus.
Noto também o meu afastamento, tão mais pronunciado do que eu julgava, da minha primeira língua e penso que estamos a morrer, nós que a falamos nesta família: a Mãe morreu, a Tante Henny morreu, a Tante Ruth vai morrer, o Pai vai morrer e, se a lei natural se preservar, eu morrerei depois deles. A minha irmã não pode dizer que fala a nossa língua; os meus sobrinhos vão falar Inglês e Português sem nenhuma ordem de prioridade. Quem vai ler os nossos livros?
Resolvi livrar-me de todos os livros em Alemão que me obrigaram a ler. O curioso é que os que me obrigaram a ler em Português ficaram. O que eu detestava as listas de livros que a Mãe fazia para me pôr a falar esta língua. A carrada de Eças que li aos nove e aos dez e o que os desprezei e, afinal, ficam todos e os alemães partem para quem os queira ou quem os ache numa pilha esquecida algures em nenhures.
É, esta coisa de a identidade se assumir numa língua tem que se lhe diga e eu, que sempre tive dificuldades identitárias, chego a esta idade, chego a estas arrumações e continuo sem me fazer sentido mais do que dar-me conta de que me vou matando o Alemão... Es ist traurig oder, vielleicht, nicht.   

22 de outubro de 2013

Donde concluo que a minha língua é inglesa


Nasci em Alemão. Aprendi Português para ir para a escola. Aos sete veio o Francês porque era chique. Aos nove o Inglês porque era instrumental. No entrementes, inglesei o pensamento e a fala, foi-me desvinculando do Alemão e forço-me ao Português. Guardo o Francês porque ainda é chique.
Ando a reformular a biblioteca cá de Casa. quando era do Pai era alemã. Depois teve uma fase intermédia em que eu me mudei para cá e instalei escritório num antigo quarto. Acho que não tinha coragem para me impor na biblioteca do Pai. Depois veio a coragem e, afinal, o que é que eu ia ler de livros de engenharia em alemão?! A biblioteca tornou-se, nessa fase, uma coisa meio esquisita entre coisas, e muitas, dispersas, minhas e de outros que me precederam e eu sem me identificar com ela. Agora foi de vez. O destino veio em força dizer: "Desta é que tens mesmo de pensar na biblioteca!" Obedeci. Foi o chão. Foram os móveis. Não sobrou nada. Estou a reinstalar-me. Fui à garagem buscar móveis antigos que recuperei porque o passado quero-o ainda e não sou eu sem ele. Depurei os livros que realmente quero. Os que me fazem.  
Engraçado, vista agora a biblioteca está a ficar um Eu que eu sabia mas nunca tinha verbalizado. A minha língua não é o Alemão, como, por muito que eu me force, não é o Português. Os meus livros, comparados com os do Pai ou os da Mãe são em Inglês. E agora é que dá para ver a real dimensão que o Inglês tem na minha vida. I'm still short for words...

21 de outubro de 2013

Quando o highlight do dia é Downton Abbey

Quando o highlight do dia é a estreia da nova temporada de Downton Abbey é porque devo andar num stress de vida desgraçado...

19 de outubro de 2013

18 de outubro de 2013

Como os estrangeiros nos estão a ver

Reportagem do Financial Times sobre as auto-estradas de Portugal. Um país decrépito que seguiu políticas de gente de vistas curtas. Enfim, nada de novo, apenas passámos do estereótipo da mulher de bigode e xaile preto para a imagem do pobrezinho sem dinheiro para as portagens...
Aqui:
http://video.ft.com/2618878640001/Portugals-ghost-roads/World

16 de outubro de 2013

The indulgence of self-pity

A tinge of sadness that needs addressing. The lack of time for commiseration and the million things that demand immediate attention. More than anyting else now, I want to be sad. I need to be sad to mourn and get rid of it. It is my body that needs the indulgence of self-pity and I cannot find the space for sadness.
 A phone that rings in silence. It is blood and I cannot take the call. A second ring. The insistence unleashes a rush of adrenaline permeating my every pore. Blood is stronger than water. Love-driven imperatives supercede all other feelings. I cannot be sad when action is what my brain and my heart at crying out so loudly I can practically not breathe. There is a whilwind and I drive in it, oblivious of everything around me.
I conjure strength and the Powers above. I imagine scenarios. I devise plans and solutions. Nothing else matters because blood is so thick. Not them, please. Strip me of everything but not them. I am as insignificant as to be nothing. Do unto me as You please, but not them.
False alarm.
I pray as I crumble down to the stress of those long, excruciating minutes. Relief is physical. Tension is drained through the weakening of my muscles. It was false alarm, thank you. Oh, so very thank you. And inside I am selfishly happy: I can finally be sad. I will be sad now. I will be cured through the privacy of self-pity and tomorrow life will be resumed because that is the promise wrapping (my) self-commiseration.

14 de outubro de 2013

Levei vários murros no estômago

Levei vários murros no estômago ao ler esta entrevista. Primeiro porque sou professora no superior, classe atacada no artigo. Segundo porque sou apenas professora, classe atacada pelo sistema. Terceiro porque penso em várias daquelas coisas ditas "politicamente incorrectas" que atribuo à minha criação alemã e que agora vejo um português verbalizar. Quarto porque o ensino chegou ao fundo do poço e ainda pode descer mais.
Aqui:
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/mitha-ribeiro-estou-fisicamente-preparado-actuar-se-aluno-desobedecer

9 de outubro de 2013

Viver em guerra

Cresci no seio de traumas de guerra. Do lado alemão, as histórias inevitáveis, a minha Mãe que acumulava mantimentos e sonhava exasperada que um dia teríamos de fugir porque vinha aí nova guerra. Em Bremen usávamos o bunker de casa para tratar da roupa e eu tinha medo das aranhas que por lá se escondiam nos cantos escuros. Do lado português, a guerra colonial e o tiro que o Pai levou e nunca disse até eu achar, muito convencida das minhas certezas, que ele tinha uma cicatriz de bala que a Mãe pensava ter sido um furúnculo que ele tinha tido quando era novo. Guerra, guerra, guerra por todo o lado. E, no meio, o medo dos russos e da bomba atómica.
Quando cheguei à faculdade respirei. Eu tinha chegado ali sem haver novas guerras e era bem possível que a minha geração sobrevivesse a um capítulo da História sem guerra, pelo menos na Europa. Enganei-me. A minha geração vive em guerra. Uma guerra sem o convencionalismo das bombas, mas uma guerra na mesma. Uma guerra económica, uma guerra com potências, vencedores, vencidos, ditadores, ansiedades, stress traumático, desrespeito por direitos humanos e igualdades. Vivo numa Europa que envergonharia a minha Mãe se ainda fosse viva, a Tante Henny que morreu há dois anos, que envergonha o Pai que lutou por guerras perdidas, que não envergonhará por muito mais a Tante Ruth que vai morrer, e que me envergonha em todos os dias deste presente.
Percebi a Mãe e os seus sonhos. Sonhei que tinha de salvar os meus sobrinhos. Vi-me numa espécie de aeroporto e sei que ia fugir. Tinha de salvar as crianças. O coração batia-me a sair pela boca. O trauma regressou. Ser Tia-mãe acordou-me visceralmente. Estamos em guerra e não sei onde ou como vamos acabar...

6 de outubro de 2013

Quando um momento é felicidade a 100%

Dois anos de gente. Um tanque com peixes. A felicidade absoluta não precisa de muitos ingredientes.
Ao Poder que me permitiu isto: obrigada.

4 de outubro de 2013

Hoje é um daqueles dias

Sexta-feira e acabo uma reunião na faculdade às 20.13. Chegar a casa não chegar e são 21.00. As chatices para resolver foram hoje mais que muitas. Só me apetece sofá, uma sandes (de preferência que nem me dê trabalho) e é só...

2 de outubro de 2013

Reflexões académicas: miscelânea

. Se não fossem/fôssemos os totós do amor à camisola que trabalham em horários de Revolução Industrial, o sistema universitário já tinha colapsado neste país em crise;
. Gostava de saber se no secundário os meninos não usam caneta: é que têm sido tantas as perguntas do "Ó Stôra é preciso caneta?" que começo a desconfiar se a geração Magalhães deixou de usar implementos de escrita convencional;
. E exactamente o que quer dizer "Stôra"?;
. Era bom que os media e a população em geral ficassem de uma vez por todas a saber que as universidades são empresas de conhecimento e que sim geramos as nossas receitas, gastamos com parcimónia e não somos Estado-dependentes no 100% com que ignorantemente nos atiram à cara;
. E, já agora, quando o público em geral acha que temos férias em barda e tempo de sobra, gostava de perguntar quem estaria disposto a abdicar de férias de Verão, entrar às 7.30 da manhã e chegar a casa às 21.00?
. Só mais uma que não resisto, quando ouço a polémica toda das turmas de 30 alunos (que sim, até talvez seja um exagero de gente numa sala), alguém gostaria de dar cadeiras teórico-práticas a turmas de 90 de gente? E que 90x3 ainda dá qualquer coisa como 270 de gente a ser avaliada?

Pois...