Dezasseis anos, Mãe, e eu não consigo abarcar o que são dezasseis anos privados da tua fisicalidade Aqui. São dezasseis anos a menos para te reencontrar. Pensando assim, já não falta tudo, seja lá o quanto for o tudo. Sempre são dezasseis anos a menos e isso já é um belo percurso decrescente.
Sabes do que mais sinto falta? Das conversas. Ninguém conversa como tu nem nunca mais pude explorar conversas com ninguém como as que tinha contigo. Fazes-me falta ao intelecto. Como me fazes à alma e ao coração. Mas não estou triste, Mãe.
Este ano, este hoje, estou feliz porque não viste o capítulo de horrores que foi o meu casamento e o calvário do meu divórcio. Hoje sou só eu numa liberdade que ainda não acredito porque acho que nunca fui livre. Aquela doença que nos entrou em casa mal eu saí da adolescência. A doença que era contigo sem eu perceber porque é que tinha de ser contigo e não comigo que não fazia falta a nada ou a ninguém nesta vida. A doença que nos privou da liberdade e que tudo consumia. A doença que foi o meu projecto de vida nos seis anos que por aqui permaneceu. Depois veio o luto incomensurável e a prisão da tristeza; o meu casamento agrilhoado e agora estes outros seis anos de privação legal e instituída de liberdade. Portanto, acho que nem sei bem o que é viver em liberdade. Ainda me estou a habituar. Mas digo-te que estou a gostar e sei bem como irias ficar contente por me saberes livre se Aqui estivesses. Estás Aí e sabe-lo na mesma, eu é que não testemunho esse teu contentamento. O meu egoísmo de te ter Aqui é que me deixa consciente da perda de Ti, só isso. No resto, sempre me fizeste a filha mais feliz do mundo e isso não há perda, nem Aqui, nem Aí que mo tire.
Adoro-te, Mãe. Até daqui a menos dezasseis anos.
2 comentários:
Maravilhoso hino à sua mãe!
Um beijinho solidário!
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