7 de Junho de 2014:
É Sábado à noite. A vila está em festa e há um toiro à solta no largo do chafariz. Gente na rua e eu sinto-me livre. Há anos que eu não me sentia assim e não sei se alguma vez me senti assim verdadeiramente. Acho que não. Forma duas décadas de penas e grilhões. Primeiro aquela tragédia toda que nos entrou porta adentro e nos mutilou no que de mais eterno tínhamos. Depois fugi para a frente num casamento desconexo e oco que me fez estranhar-me e desligar-me de mim para não me confrontar no erro. E, por fim, estes quase seis anos de batalhas numa justiça que teimou em não me divorciar. Sim, não me lembro do que é liberdade e, nestes últimos dias, dou comigo a pensar no que vou fazer com ela e como a poderei aproveitar. De súbito tenho este dom tão imenso e sinto-me diminuir ante a sua envergadura.
Vou sair com quem tanto me fortaleceu e acompanhou neste calvário. Falamos deste novo capítulo e do que agora se encerra. Quero finais, encerramentos e sei que fechar capítulos presume rituais. Este é um deles. Sair para jantar com quem me aturou tristezas e me vinha esperar a casa com o jantar que sabia eu não comeria se estivesse só. Falamos de um pretérito recente para não precisarmos voltar a falar dele. Ando pelas ruas animadas desta vila de campo e vejo tudo como pela primeira vez. Estou livre e, por muito que o verbalize, ainda não acredito.
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