Horas depois de entrar no Parque Nacional de Big Bend avisto-o, o Rio Grande. Quando eu era pequena e via os filmes do Velho Oeste, havia sempre dois elementos fulcrais na paisagem, a Sierra Madre e o Rio Grande. Pois ei-lo, este rio lamacento e plácido. Vê-lo-ei mais vezes nesta viagem, nem sempre plácido, nem sempre lamacento. Do outro lado é o México. Inspecciono o que há para lá da fronteira. Vejo jericos a pastar à beira de água, algumas cabras, uma furgoneta de caixa aberta e sei que para lá do rio vive quem quer viver o "American dream".
Imagino o John Wayne a a travessar o rio a vau e sublinho mentalmente a coragem de quem aguentou a desolação e o calor extremo para erigir países neste desterro inóspito. Homens e mulheres de fibra, tão distantes dos meus privilégios de turista que galga a paisagem no conforto do ar condicionado, da estrada asfaltada para turistas verem e promontórios seguros com belos miradouros de onde tirar a foto perfeita. Absorvo o local nos momentos que ali fico e inspiro a solidão da imensidão que me rodeia. Entrecorta-me essa contemplação a descoberta de jóias e figuras de arame, aranhas, cactos em cima de pedregulhos.
São várias. Algum artista ali deixou a sua criação. e em todas um copo ou uma garrafa de plástico com uma ranhura para lá deixarmos o pagamento. Sim, quem aqui deixa a criação desguardada e só já está a viver o "American dream", aquele da liberdade de perseguirmos sonhos na liberdade de o fazermos.
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