Estou entusiasmada por trazer o meu marido ao Palácio Schaezler, um pequeno palacete a meio da Maximilianstrasse, a rua principal da cidade. O palácio, de fachada tão singela que facilmente passa despercebido, é famoso pela sua sala barroca, uma extravagância rococó que nos deixa a cabeça à roda. Temos uma sorte danada. No momento em que vamos visitar a sala ela está fechada para a produção fotográfica de um casamento que vai ter o copo-de-água nos jardins do palácio, onde outros noivos diferentes também fazem as suas poses para mais tarde recordar. O responsável pela sala, um senhor a rondar a sua sétima década de existência, deixa-nos entrar, falando num alemão suábio que mal percebo. Conta-me a história do palácio e a data do primeiro baile no salão. Respondo e aceno com a cabeça em sinais de entendimento e sorrio. Deve achar-me simpática e deixa-nos entrar. Um luxo ter a sala toda para nós só com os noivos ao fundo que, bem vistas as coisas, até se tornam um aspecto pitoresco que levamos desta visita. Por acaso miraculoso, o palácio foi poupado durante os raides aliados. Que trágico, como trágica foi tanta coisa, se este emblema do rococó tivesse sido escaqueirado pela estupidez da guerra que nos desumaniza e com a qual nunca aprendemos.
O meu marido pergunta-me o que tanto falava eu com o segurança que estava à entrada do salão. Explico a pinceladas largas o que acho que ele me terá dito e confesso que metade da informação me passou ao lado. Por esta altura da viagem, o meu marido já há muito que entendeu que o alemão é uma língua um bocado mitificada que não tem, de todo, a universalidade que lhe atribuímos no denominado mundo germânico. Deixamos a extravagância barroca e vamos ver o museu de pintura que o palácio alberga. A perspectiva de contemplar cara-a-cara autênticos Holbein, Cranach e Dürer é por demais aliciante.
É em momentos como este, em que tenho perante os olhos um algo qualquer de importância para o mundo ou para a Humanidade, que me dou plena consciência dos meus privilégios e agradeço a vida que me trouxe até este instante. A humildade ante a grandeza, e não tanto ante a grandiosidade embora haja grandeza grandiosa, faz-nos apreciar o momento, interiorizá-lo e torná-lo indelével na nossa alma imortal. Um retrato de Jakob Fugger pintado por Albrecht Dürer, quiçá um dos mais famosos retratos do mundo, cenas bíblicas de um Hans Holbein, o Velho ou um "Sansão e Dalila" de um Lucas Cranach, o Velho enchem-me de admiração e honra. Detenho-me e demoro-me pois volto a ser a miúda das trancinhas louras que desfolhava livros e via documentários sonhando com o dia de ser grande e ir em busca das imagens dos livros e dos documentários. Acho que já é grande...
1 comentário:
O mesmo me aconteceu com o quadro de Henrique VIII que vi com os meus filhos algures num palácio no Norte de Inglaterra. O HVIII que eu via no livro de história, relacionando-o sempre como o “barba azul! Longe vão esses tempos...
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