28 de junho de 2019

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Às vezes penso quando é que vou deixar de vir aqui, de me lembrar deste dia, quando o vou esquecer ou fazer dele uma banalidade normal daquelas que nos passam despercebidas. Acho que não o faço por isso seria traír-te, menorizar-te no meu coração, quando menor é tudo o que não és nem nunca foste. O filho que eu teria tido, se fosse vida e não morte o que assinala esta data, seria um adulto na plenitude da maioridade, aquela a que se chegava antes de ela ter descido aos dezoito anos do fim adolescente. Quem seria e o que faria com os seus vinte e um anos. Que vida teria eu tido mãe dessa pessoa? Ao invés, tenho sido filha ferida pela saudade e pela amputação. Nunca o superei, como não o quero superar.
Não é masoquismo esta lembrança, é uma forma de me avivar de ti, Tu que andas sempre presente e te fazes notar a cada instante. A vida seguiu-nos, de uma maneira estranha, é certo, mas seguiu. Hoje temos o que temos, sendo o que somos, órfãos de ti mas gente viva que viveu o que soube e pôde depois daquilo. Vinte e um anos, Mãe. Vinte e um, tenho de repetir para me dar conta do lapso de tempo menos rico e feliz que passou entre aquele dia e hoje. Lembro-me de como pensava que cinco anos eram tantos, depois dez e mais e agora isto, este número com tendência a crescer, enquanto decresce a minha proximidade de ti.
No meio disto tudo sou feliz. Feliz porque te tenho e feliz da sorte que me fez ser-te o que sou. Não me fiz mãe de algum filho que agora fizesse vinte e um anos e estivesse prestes a seguir a sua vida longe de mim. Continuei filha e filha morrerei, como morreria se me tivesse feito mãe como a tua outra filha. É assim a vida, eu venho aqui, um dia estarei aí.
Não se dizer como te amo... Mãe.

1 comentário:

Dalma disse...

Há perdas que nunca se superam e que a saudade ainda faz dor.
Falo da minha avó que me deixou há mais de 30 anos...

Não herdei nada da minha mãe, mas herdei muito da minha avó que era sua mãe. Foi ela que me ajudou na personalidade que hoje eu tenho, no rigor, na atitude perante o outro, na importância de economizarmos, ensinou-me a costura básica qd ainda brincava com bonecas,e mt, mt mais. Eu também lhe paguei sempre em ternura, muita ternura...

Ainda hoje sonho recorrentemente com ela e doi-me sempre qd olho a sua fotografia, a única que tenho (por opção) e que está no quarto que foi da minha filha!