Foi há dois anos em Salamanca que, pela primeira vez, vi uma procissão espanhola de Semana Santa. Tinha acabado de deixar as coisas no hotel e ia, curiosa e desperta, ver o que a cidade tinha para oferecer a alguém recém-chegado. Era aquele passeio de reconhecimento que fazemos quando chegamos a um local novo e todos os nossos sentidos são, e estão, abertos para a novidade. Ao aproximar-me das imediações da catedral, povo e mais povo na rua. Caminho mais um pouco e dou de caras com o que, sinceramente, me pareceu a fonte de inspiração dos robes malfadados do Ku Klux Klan. Palavra de honra que tomei susto. Eram, afinal, os pagadores de promessas e aqueles devotos que assim queriam ir na sua fé e respeito pela solenidade da morte do Cristo. Achei, em comparação, as nossas lusas procissões eventos mais felizes e ligeiros, como se a fé do Catolicismo português fosse menos suplicante e sofredora do que a espanhola.
Dois anos depois, estou no centro de Sevilha em plena Semana Santa. O mesmo fervor da angústia pelo Cristo mortificado e a mortificação por via da procissão, via-sacra de expiação e dor. Novamente aqueles capuzes e aqueles robes que me assomam à mente imagens de horror do outro lado atlântico. Respeito estas manifestações de fé. Quem sou eu para dizer seja o que for? Vejo a procissão com olhos de turista, ou talvez de viajante que pensa em milhentas coisas acordadas por estas imagens. Vejo, penso e demito-me de opinar.
1 comentário:
É absolutamente impossível ver Estes e não pensar nos outros. Felizmente que neste caso o “hábito não faz o monge”!!
Mas será que há alguma influência destes trajes nos outros? Era interessante investigar...
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