5 de junho de 2019

Esta coisa das procissões

Foi há dois anos em Salamanca que, pela primeira vez, vi uma procissão espanhola de Semana Santa. Tinha acabado de deixar as coisas no hotel e ia, curiosa e desperta, ver o que a cidade tinha para oferecer a alguém recém-chegado. Era aquele passeio de reconhecimento que fazemos quando chegamos a um local novo e todos os nossos sentidos são, e estão, abertos para a novidade. Ao aproximar-me das imediações da catedral, povo e mais povo na rua. Caminho mais um pouco e dou de caras com o que, sinceramente, me pareceu a fonte de inspiração dos robes malfadados do Ku Klux Klan. Palavra de honra que tomei susto. Eram, afinal, os pagadores de promessas e aqueles devotos que assim queriam ir na sua fé e respeito pela solenidade da morte do Cristo. Achei, em comparação, as nossas lusas procissões eventos mais felizes e ligeiros, como se a fé do Catolicismo português fosse menos suplicante e sofredora do que a espanhola.
Dois anos depois, estou no centro de Sevilha em plena Semana Santa. O mesmo fervor da angústia pelo Cristo mortificado e a mortificação por via da procissão, via-sacra de expiação e dor. Novamente aqueles capuzes e aqueles robes que me assomam à mente imagens de horror do outro lado atlântico. Respeito estas manifestações de fé. Quem sou eu para dizer seja o que for? Vejo a procissão com olhos de turista, ou talvez de viajante que pensa em milhentas coisas acordadas por estas imagens. Vejo, penso e demito-me de opinar.

1 comentário:

Dalma disse...

É absolutamente impossível ver Estes e não pensar nos outros. Felizmente que neste caso o “hábito não faz o monge”!!

Mas será que há alguma influência destes trajes nos outros? Era interessante investigar...