8 de junho de 2019
Preparar as procissões
As ruas estão, como convém, engalanadas para, com respeito, deixarem passar a procissão. Das janelas e varandas caem panos brocados cor de sangue e debruns de ouro. Devem ter um nome específico. Alguns são tão vistosos que estão decorados com palmas e entrançados de alguma coisa semelhante a verga ou palha. Porém, como em Portugal também há o hábito das colchas à janela para receber a procissão, não é isso que me espanta o olhar. O que me aguça a visão é os milhares de cadeiras empilhadas, os espaços reservados para quem se queira sentar a ver as procissões com aqueles andores que pesam toneladas e que se movem à velocidade ínfima de centímetros por minuto. Sim, só mesmo sentada é que uma pessoa consegue ver o desenrolar da procissão. Da minha experiência anterior, uma procissão leva horas a passar, horas a cobrir uns poucos de metros. As ruas seguem-se umas às outras com cadeiras e cadeiras, empilhadas umas, já dispostas outras, e eu imagino o serpentear longo e lento da procissão tal anaconda. Admiro a fé destas gentes.
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