Vem de há muito o desejo de ir ao ponto mais ao sul na Europa continental. Localiza-se em Espanha e é em Tarifa, aquela espécie de península triangular que ajuda a fazer o estreito que separa a Europa de África. Todos os viajantes nutrem sonhos de ir a sítios relacionados com algo único: o ponto mais a oeste, o mais a norte, a maior queda de água, qualquer coisa superlativa. Cá venho, então, finalmente vinda a possibilidade de concretização de uma aspiração viajante.
Sabia que é um local ventoso e surfeiro. Confirmo. Parques e parques de campismo, auto-caravanas, gente alternativa que deve viver de aventuras e estrada. O mar é bonito, orlado de ondas que rebentam brancas porque o vento as bate e espuma. À entrada de Tarifa antiga, uma placa na porta da muralha indica que foi cidade-fiel quando os mouros a queriam e quando deles se livrou. O carro segue vagaroso pelas ruas da cidade, evitando os hippies, os surfistas, os turistas e os imigrantes. É suja, muito suja. As casas decaem num misto de negligência e salitre do clima marítimo. O vento carrega as ruas de areia e os estacionamentos são raridades rarefeitas. Vejo o mar. Não me detenho mais do que cinco minutos, só para sentir que já aqui estive. Não penso regressar e não terei saudades do sítio, talvez sim do momento. Porque é uma viagem e eu amo viajar. Porque estou acompanhada e amo quem me acompanha. De outras coisas não, Tarifa não me acorda a sensação que espoleta a saudade. Vi, está visto. Isto é o ponto mais ao sul da Europa continental e não lhe acho beleza nenhuma a não ser que é o ponto mais ao sul da Europa continental.
1 comentário:
Tem razão, o viajante (raramente me assumo como turista) gosta desses desafios do ir mais longe, de ultrapassar este ou aquele meridiano, este ou aquele paralelo, de ter um pé no Hemisfério Ocidental e outro no Oriental e mesmo que isso se possa fazer em muitos sítios (desde o Polo N ao Polo Sul) só é emocionante fazê-lo em Greenwich! Não me lembra já aonde mas algures em França há um lugar em que o atrativo era/é (?) estar a meio caminho entre o PN e Equador, isto é a 45º de latitude N.
Que me lembre os pontos mais extremos em que estivemos foi em Gällivare (Suécia) que fica a cima do Círculo Polar Artico, a 67º de latitude N. Ora quando a estrada o atravessa lá está estrategicamente uma pequena casinha onde se passam certificados que comprovam essa nossa “façanha”. O meu data de 2006. Voltamos lá em 2014, mas já não justificava nenhuma prova da nova travessia!
https://noareeiroeporai.blogs.sapo.pt/tag/su%C3%A9cia
A outra ponta foi em Key West, naquele ponto que se diz estar a 90 milhas de Cuba... mas não senti qualquer impacto no que diz respeito a sentir algo de especial... ao contrário das regiões polares que me ofereceram sol pleno às 2h da manhã!
Claro, também há no meu curriculum o Cabo da Roca :))!
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