30 de março de 2008

A Tirania do Verão


Pois é, chegou a Primavera e com ela a lembrança de que nós, pobres mulheres do séc. XXI, somos uns seres muito imperfeitos. Passámos a invernia escondidas sob o manto protector das roupas quentes e, agora, o sol vem destapar-nos o corpo e mostrar-nos com toda a crueldade que estamos muito longe dos paradigmas de beleza que vemos por todo lado a entrar-nos olhos adentro.

Assim, na tentativa de nos melhorarmos e de incrementarmos a auto-estima lá vêm os cremes, os comprimidos, as dietas, a consciência de que há ginásios, os chás disto e daquilo, as massagens, as lipos, os spas com mil tratamentos, as mesoterapias, os aparelhos desincrustantes de celulite. Revistas, televisão e rádio ganham fortunas em publicidade a produtos miraculosos que nos deixarão em forma até ao Verão. Farmácias, dietéticas, clínicas, parafarmácias, hipermercados todos nos aliciam com a promessa de melhorar o nosso corpo imperfeito.

Chamo a isto a histeria colectiva, a tirania do mundo da suposta beleza. Não há, na vida real, mulheres como as que desfilam nas passerelles e nos fazem sentir ridículas. Mas isso é o que é estipulado belo. Ninguém fala do suplício das modelos e actrizes e outros ícones de beleza. Ninguém diz que se internam nos hospitais para ficarem a soro e, desse modo, não fazerem ingestão alimentar para não engordarem. Pensamos que fazem muito ginásio, têm uns genes fantásticos e, como têm dinheiro, fazem plásticas e rodeiam-se de bons nutricionistas. Não é bem assim. Passam fome, têm distúrbios alimentares e submetem o corpo às piores atrocidades imagináveis. Depois são modeladas fotograficamente, só se deixam filmar sob certos ângulos mais favoráveis, com determinadas luminosidades, maquilhadas por "make-up artists". São, em suma, uma fraude. E nós, pobres mortais susceptíveis, vamos atrás a pensar que também poderíamos ser assim. Ou invejamo-las como imagens do que gostaríamos de ser e não somos.

Arrelia-me esta imposição do cânone ocidental da beleza. Enerva-me que o modelo a seguir seja uma coisa artificial e fabricada a bisturi e publicidade.

Quando chega a Primavera e vejo lá no ginásio que chega a migração sazonal que quer, em três meses, ficar pronta para o Verão, não deixo de pensar na escravidão da imagem. Confesso que tenho pena daquelas senhoras, que, na grande maioria, vão para ali contrariadas e, certamente, não atingirão os objectivos. Depois penso também nas estupidezes que devem andar a fazer, as dietas malucas e selvagens incutidas pelas revistas, mais a toma de suplementos mal-estudados e pouco testados.

É impressionante a publicidade que existe para a nossa infelicidade! Constrange-me e entristece-me esta ditadura do corpo nos moldes contemporâneos. Como é que se luta contra isto?

27 de março de 2008

24 de março de 2008

Death Toll




We're now five years into a war leading nowhere.

Five years of bloody carnage on both sides of a fence we don't know exactly what it is. When the baddies and the goodies are not so clearly distinguishable.

On 9/11, 2.977 people were killed (2.741 American citizens plus 236 people of foreign origin) not including the presumed 19 terrorists.

Five years into a war against a, most probable than not, wrong target 4.000 American troops have been killed in the Iraqi battleground. More Americans have died in a war against terror than those who were killed on a terror act.

Alongside the 4.000 US army soldiers fallen as war casualties we're not counting the thousands more of Iraqi civilians dead either on suicide bombings or as victims of failed and miscalculated war actions. We're not counting the foreign war correspondents on site. We're not counting the Italian, Australian or other international Armed Forces troops. And, of course, we're not counting the suicide bombers (as we don't count terrorists).

Five years into the war and somebody's hands are tainted with blood.

19 de março de 2008

Adenda

É tão interessante observar quando alguém recua porque errou e não pensou e, teimosamente, diz que não! A arrogância invencível que nada aprende com a humildade.

Enfim, a Oeste nada de novo...

15 de março de 2008

Tattoo taboo!

Nunca imaginei escrever sobre piercings e tatuagens, tal como nunca pensei que se pudesse legislar, com laivos impeditivos e autoritários, o que se pode, ou não, fazer com ou ao nosso corpo. Vamos por partes.

O corpo humano foi talvez das primeiras telas usadas pelo Homem e, por isso, uma das mais antigas maneiras de expressão gráfica, leia-se artística. Colorir o corpo, preenchê-lo de cicatrizes, perfurá-lo dos mais diversos modos é algo tão humano como usar vestuário ou acessórios. Só o puritanismo ocidental dos séculos mais recentes desdenhou o uso do corpo como adequado à invasão pela Arte.

Nos últimos anos ressurgiu, parece, um renovado prazer em ornamentar o corpo com técnicas e formas antigas. São populares as tatuagens celtas, maoris e totémicas, isto é, tatuagens de inspiração étnica presentes em diversas culturas e, ainda hoje, cultuadas. É também disseminado o uso de piercings (do verbo inglês "to pierce" ou furar) que de novo não tem nada porque também é remanescente de culturas tribais ameríndias e da Australásia. Ou seja, este revivalismo de tatuagens e piercings não é uma invenção de gente marginal dada a hábitos condenáveis. É meramente uma forma de expressão pessoal que tem acompanhado o passo da evolução humana.

Claro que cada um de nós tem absoluto direito a gostar ou não de tatuagens e piercings. Pessoalmente não acho piada a piercings na face e na língua, mas apenas porque os acho inestéticos. Também não me seduzem as tatuagens de corpo inteiro porque, afinal, a pele também é bonita e sensual ao natural e, sobretudo, não me venham com tatuagens amadoras de caveiras azuis e águias do Benfica. Porém, se há quem goste vou fazer o quê? O mau-gosto não é contagioso felizmente.

Defendo, todavia, que se deva legislar sobre os locais apropriados para a realização deste tipo de ornamentação corporal. E mais, defendo que se aperte bem a vigilância sobre as condições higiénico-sanitárias desses locais e que até haja formação para os profissionais do ramo. Até aí tudo bem.

Agora, proibir a realização de piercings em sítios específicos do nosso corpo? Mas quem manda aqui no meu próprio corpo? O Estado? Acaso serei propriedade pública? E porque não proibir quem fuma? Considero que legislar sobre o meu corpo é mais invasivo do que legislarem sobre aquilo que eu faço dentro das paredes da minha casa. Legislar sobre o meu corpo é a forma final, máxima e mais trucidante da minha auto-determinação como ser humano detentor de livre-arbítrio que posso conceber. Se eu tenho o direito humano de recusar um tratamento médico que poderá salvar a minha vida porque tenho de estar limitada ao uso que quiser fazer do meu corpo?

Confio, ainda, que se vá a tempo de inverter o que esta legislação encerra de coersivo ao dispor individual do bem mais precioso que temos: o Eu!


P.S. - A Blonde, como não é hipócrita, escreve, como se depreenderá, com conhecimento de causa.

13 de março de 2008

10 de março de 2008

A isto se chama informar... bem!



Informar bem ou informar bem mal, eis a questão.

Feliz ou infelizmente lá vou sofrendo umas vezes, alegrando-me outras com o meu triste Benfica (e já agora com o meu Borussia Mönchengladbach e o meu Werder Bremen que, de todos, é o que ainda me vai dando umas alegrias de quando em vez). Enfim, no campo futebolístico nasci para sofrer. Bem queria torcer por um FCP ou um Bayern München, mas sempre tive queda para os desgraçados desta vida.

Explicação dada, passo ao conteúdo. Vi hoje o noticiário da uma da tarde porque queria saber das repercursões da manifestação dos professores, queria saber melhor os resultados das eleições em Espanha, queria saber desenvolvimentos do caso Mariluz. Em suma, queria ser informada de coisas sérias que têm naturais consequências e implicações tanto a nível social como político.

Eis senão quando, abre o noticiário da RTP e o da SIC (o da TVI nem me dei ao trabalho de espreitar) com a demissão do treinador do Benfica. E ali estivémos um quarto de hora a levar com toneladas de informação da melhor qualidade que há sobre a crise aberta no Benfica!

Bem sei que o Benfica é uma nação, mas não havia necessidade! Ademais, desde quando é que o raio de uma crise no Benfica é uma grande e estrondosa novidade? Se estivesse a jogar o campeonato com uma diferença de vinte pontos sobre o segundo classificado, aí sim, aí, honra lhe seja feita, tinha de ter honras de destaque (ainda assim tenho dúvidas se deveria abrir o noticiário).

Só depois de bem esmiuçado o assunto benfiquista é que se passou para as notícias que podem ter impacto na sociedade. Algo como os investimentos de três mil milhões de euros em Portugal que a Galp pretende realizar resumiram-se a uns insignificantes minutos.

Aprendi uma coisa, afinal o Benfica é uma notícia que pode mudar a sociedade, o país, que interessa a milhões de espectadores, que gera progresso, que desperta a curiosidade e o interesse.

Sou tão analfabeta! Deus me valha!

6 de março de 2008

Um dia nas Letras Lusas

Este é um blog que se está a tornar recorrente em obituários (não sei se gosto disso mas a vida vive-se de epitáfios e partidas constantes).

Hoje soubémos que as Letras Portuguesas se empobreceram com a partida de Joel Serrão, o historiador que nos lega a visão moderna da História no Portugal Contemporâneo (e estou a parafrasear um outro historiador que, antes de Joel Serrão, nos ensinou a História e nos deu o modelo novecentista finissecular da História pátria, Oliveira Martins. Afinal como melhor homenagear um historiador se não com a invocação de outro?).

Desgosta-me contudo que os principais órgãos noticiosos online repitam ad nausea o mesmo texto ínsipido sobre Joel Serrão. Sempre a mesma repetição do comunicado da Lusa dado pelo departamento de História da FCSH. Não havia ninguém que em cinco minutos produzisse um breve texto original? Afinal, se temos um monumental Dicionário da História de Portugal a alguém o devemos, ou não? Eu produzi uma tese de duzentas e muitas páginas, outra de seiscentas e tantas e, se acho isso uma monstruosidade colossal de papel e factos, o que podemos dizer de alguém que edita a história de um povo épico? Eu não seria capaz. Duvido de que muitos o fossem, e o que se faz é uma transcrição noticiosa, pastiche de outra.

Ademais, fazendo uma busca nesta coisa gigantesca que é a net, alguém encontra uma entrada sobre Joel Serrão na Wikipedia? Pois... Somos um paízinho que trata muito bem os seus intelectuais e, sobretudo, os seus homens e mulheres de Letras.

Escrevo ainda outro obituário. Desta feita, à Língua Portuguesa. Foi hoje ratificado o novo acordo ortográfico que contempla um período transitório de seis anos. Habituemo-nos, então!

Deixo-vos uma imagem que, para mim, vale mais de mil. A capa da Nau Catrineta, o livro onde li as primeiras letras em Português, o livro em que me deparei pela primeira vez com a História deste país que comecei a chamar meu.

História e palavras hoje têm um dia para a História.

3 de março de 2008

From Russia with ambiguity

Definitely, I don't think Russia will ever adopt the democratic forms of our Western world. It's hopeless. Never was it the case that, no matter how remote the odds, Russia trailed the path of democracy.
Tsars, oligarchs, communists and now these pseudo-presidents. We're all very frustrated here, in the West of all virtues, with this electoral process in Russia. We criticise it and mock at it. It goes against our values and ways of thinking. However, this gets me thinking that we want to submit the world to a single ruling model: our democratic model. But, in the end, what still prevails is that saidian divide West/East even if we live in a post-Said era.
Us and the Others. And the Others will always be riven by difference. Who are we kidding?