Assim, na tentativa de nos melhorarmos e de incrementarmos a auto-estima lá vêm os cremes, os comprimidos, as dietas, a consciência de que há ginásios, os chás disto e daquilo, as massagens, as lipos, os spas com mil tratamentos, as mesoterapias, os aparelhos desincrustantes de celulite. Revistas, televisão e rádio ganham fortunas em publicidade a produtos miraculosos que nos deixarão em forma até ao Verão. Farmácias, dietéticas, clínicas, parafarmácias, hipermercados todos nos aliciam com a promessa de melhorar o nosso corpo imperfeito.
Chamo a isto a histeria colectiva, a tirania do mundo da suposta beleza. Não há, na vida real, mulheres como as que desfilam nas passerelles e nos fazem sentir ridículas. Mas isso é o que é estipulado belo. Ninguém fala do suplício das modelos e actrizes e outros ícones de beleza. Ninguém diz que se internam nos hospitais para ficarem a soro e, desse modo, não fazerem ingestão alimentar para não engordarem. Pensamos que fazem muito ginásio, têm uns genes fantásticos e, como têm dinheiro, fazem plásticas e rodeiam-se de bons nutricionistas. Não é bem assim. Passam fome, têm distúrbios alimentares e submetem o corpo às piores atrocidades imagináveis. Depois são modeladas fotograficamente, só se deixam filmar sob certos ângulos mais favoráveis, com determinadas luminosidades, maquilhadas por "make-up artists". São, em suma, uma fraude. E nós, pobres mortais susceptíveis, vamos atrás a pensar que também poderíamos ser assim. Ou invejamo-las como imagens do que gostaríamos de ser e não somos.
Arrelia-me esta imposição do cânone ocidental da beleza. Enerva-me que o modelo a seguir seja uma coisa artificial e fabricada a bisturi e publicidade.
Quando chega a Primavera e vejo lá no ginásio que chega a migração sazonal que quer, em três meses, ficar pronta para o Verão, não deixo de pensar na escravidão da imagem. Confesso que tenho pena daquelas senhoras, que, na grande maioria, vão para ali contrariadas e, certamente, não atingirão os objectivos. Depois penso também nas estupidezes que devem andar a fazer, as dietas malucas e selvagens incutidas pelas revistas, mais a toma de suplementos mal-estudados e pouco testados.
É impressionante a publicidade que existe para a nossa infelicidade! Constrange-me e entristece-me esta ditadura do corpo nos moldes contemporâneos. Como é que se luta contra isto?