31 de julho de 2012

Myrtilis Iulia aqui vou eu!

Há quatro anos que rumo sempre ao Alentejo por esta altura. Este ano é o Baixo Alentejo: Mértola, Alcoutim, Pomarão, Minas de São Domingos, Pias. Também quero passar por Elvas agora que é UNESCO.
Não sei porquê mas o Sul fascina-me mais do que o Norte. É bonito o Minho, o Gerês, mas o Sul tem as planícies infinitas, a quietude do calor, a languidez, o som das cigarras. O Sul é o Meridião, é mediterrânico, é o Attenborough do Primeiro Éden, são as villas romanas perdidas no meio do nada. O Alentejo é o cheiro a seco e a terra. É o verde esparso e o castanho, as represas de água e o Guadiana dolente. E é a solidão e o estar só consigo. É uma ancestralidade calma. Adoro o Alentejo e já estou em pulgas por partir. Vou adorar, como sempre... 

30 de julho de 2012

Experimentei fazer



Experimentei secar tomates ao sol. Como me dão mais do que os que eu consigo consumir e já estou farta de usar os excedentes em doce, pensei em secá-los.
Cortei-os em metades que pus sobre uma grelha e salpiquei com sal, manjericão e vinagre balsâmico. Usei uma rede fininha para os proteger de insectos e pó e deixei o sol quente fazer o seu trabalho. Quando estavam secos (tipo
couro) tirei-os do sol e pu-los num frasco com mais manjericão, um dente de alho bem picadinho, mais um pouco de sal e cobri com azeite. Agora vou esperar uns dias para emulsionarem bem e depois logo provo o acepipe a ver como ficou. Para já, para já, parecem muito profissionais:)

27 de julho de 2012

Fare niente

Até dia 6 de Agosto não vou:
. escrever papers;
. fazer pesquisa;
. preparar aulas;
. compilar materiais.
Eu até nem me acho worhaholic mas se calhar até sou e estou é em negação constante. Seja como for: I need a break.

26 de julho de 2012

25 de julho de 2012

Há um ano

Há um ano... já?! Acho que sempre associei as melhores viagens aos sítios mais remotos, exóticos e inexplorados. Achei sempre, erradamente, que para uma viagem ser surpreendente o destino tinha de ser ainda mais surpreendente, obliterando que as viagens próximas, os sítios mais familiares ou o desgastado beaten track pudessem transformar-se em algo fenomenal e inolvidável.
Foi assim o ano passado. Não precisei cruzar oceanos, perder-me em desertos, subir grandes canyons ou atravessar meridianos e paralelos. No entanto, dificilmente o exotismo das minhas ditas grandes viagens me trouxeram a amálgama de sentimentos e sensações da viagem que fiz há um ano. Obrigada.  

24 de julho de 2012

Saudades da Alemanha


Ando tão irritada com a Frau Merkel e com o Herr Schäuble que me esqueço e desprezo as minhas origens. Revejo na Merkel e no Schäuble o pior dos estereótipos alemães e isso abespinha-me contra eles. A coisa anda de tal maneira encrespada que aqui há meses passei pelo aeroporto de Frankfurt e chamei entredentes uma coisa feia a um oficial da fronteira de tão danada estava com os alemães. Mas ontem, por puro acaso, vi um programa sobre uma viagem pela rota romântica do sul da Alemanha. Revi lugares familiares. Deu-me saudades. A cada imagem ia dizendo que isto é que é a Alemanha. Orgulhava-me porque o apresentador dizia que é tudo impecável, que a Alemanha é um paraíso para o viajante e mais etceteras. Já não sentia isto há que séculos, nem mesmo quando a Tante Ruth me escreve a pedir: "Komm, Blondin!" (Vem, Blondinha!"). Acho que quero passar as férias do ano que vem a viajar pela Baviera: Rothenburg, Regensburg, Augsburg, Chiemsee, Wurzburg, Eichstätt, todos esses sítios felizes de uma Alemanha minha, de um passado íntegro. Apetece-me voltar sem este sentimento rancoroso de um presente difícil. Apetece-me voltar com o sentimento morno de pertencer ali porque já fui tudo e toda ali. pode ser que sim... 

23 de julho de 2012

Na pré-história

O diagnóstico é fácil: um valente kaputt! Não há router, logo não há net, não há TV, não há nada. Primeiro pensamos não sobreviver sem um qualquer tipo de conexão ao mundo além-paredes e além-nós. Depois é susto do desvario do como é que vamos trabalhar? E depois surpreendemo-nos porque sobrevivemos e temos tempo para o que não teríamos se estivéssemos na plena faculdade do usufruto das tecnologias da informação (nome pomposo para a nossa escravatura ao estarmos ligados, ao estarmos em rede, em suma, ao estarmos atados à necessidade estapafúrdia do contacto).
Enfim, a escuridão de comunicação poderia ter sido pior.

20 de julho de 2012

O Relvas, o IVA e isto é uma anedota

O ano passado quando se descobriu que o Ministro da Defesa alemão, Karl-Theodor zu Guttenberg, tinha plagiado partes da sua tese de doutoramento ficou sem tese, sem título e sem pasta. Mas isto, já se sabe, os alemães não têm um pingo de sentido de humor e a coisa foi tomada como uma vergonha que tinha de sair de cena rapidamente e ponto final. Aqui, valha-nos isso, o humor reina e, no caso da pseudo-licenciatura do pseudo-Dr. Relvas, a coisa vai à gargalhada: porque é que o Relvas atravessou a estrada? Para tirar o ERASMUS! Que uma pessoa se dê a este enxovalho em praça pública acho de um masoquismo apreciável. Que os portugueses façam disto o anedótico do nosso quotidiano acho a expressão máxima da nossa boa-disposição (estão a ver porque é que me naturalizei portuguesa, não estão?).
E depois temos a ideia ofuscante de que o IVA pode ser restituído ao contribuinte, até um tecto de 250 euros, se este (desgraçado) apresentar facturas no valor de mais de três salários mínimos por mês. Desatei a rir quando vi ontem na televisão o secretário de estado de troca o passo explicar como era fácil o contribuinte declarar a molhada de facturas online.
Eu acho que este é país do Rato Mickey, a república das bananas da Europa, mas que temos coisas hilariantes, temos. Que o nosso dia-a-dia político é uma anedota pegada, é. Que me farto de rir, farto. Quero lá eu voltar para a Alemanha, nem pensar! E perdia esta diversão toda? Não.

17 de julho de 2012

Receber de amigos

A luz amarela dos faróis ilumina o breu da noite abafada e quente. Deslizo em curvas e contracurvas com os vidros abertos para receber o cheiro de palhas e searas secas. Cheira a Verão profundo e familiar de passados. Desvio-me de uma cobra preta e amarela encaracolada no quente do asfalto. Vinhedos e campos emolduram a estrada que serpenteia pelo meu mundo de distâncias campestres. E chego à minha casa quieta. É tarde. A alma vem morna.  
Não sei onde estaria sem a nuvem de amizade que me envolve. Gente que me recebe nos maus bocados e se ri comigo nos bons. Gente que me acolhe e cozinha para mim quando, tantas vezes, o que mais preciso é que cozinhem para mim. Sim, não sei onde estaria sem esta nuvem que pega em mim e me leva para longe quando mais preciso.
Obrigada por ontem.

15 de julho de 2012

O Verão traz banhos

 Ao fim de seis anos a viver comigo, a minha Dona insiste em que eu tome banho. Mal chega o Verão e lá vem ela de mangueira em riste. Atira-me para a relva, que é onde ela pensa que é mais fácil eu não me espojar todo, e cá vai disto de mangueirada pelo meu pobre pêlo abaixo. Eu bem tento manter um ar de dignidade mas convenhamos que quando se está encharcadinho é muito difícil.
O que me desforra é que se eu tomo banho, ela também toma. Ele é água para dentro das galochas (este ano pensou que minimizava a coisa com galochas, pois sim...), na cara, nas calças, pelas costas abaixo e, claro, quando eu me sacudo é o diabo. Enfim, não sei quem se diverte mais com a miséria alheia, se eu se ela. Bem, deixa-me ir esfregar ali para a areia do meu cantinho que isto de banho e perfume é muita mariquice para mim.

12 de julho de 2012

Vamos ser grandes amigos

Ando a descobrir a pessoa que está dentro do meu sobrinho de ano e meio. Nestes últimos dias tenho passado mais tempo com ele (nem sempre exactamente sozinha porque a minha irmã se encarregou de criar uma cadeia de supervisão infalível nestes dias em que tem estado fora: eu supervisiono o bebé Manel, a empregada supervisiona-nos a ambos e, por sua vez eu a ela, e o pai Manel supervisiona-nos a todos e todos o supervisionamos a ele, enfim, a minha irmã não deixou nada ao acaso: é mãe). É engraçado ir buscar o Manel à ama e descobrir o mapa lisboeta de pequeno bairro em que a Mana se move. E mais engraçado é o tempo que eu passo com um bebé chilreante que começa a fazer associações lógicas e a tecer cadeias de consequência. Acho que nunca pensei que começamos de um zero absoluto em termos de aprendizagens e nunca imaginei que assistir a isto se me revelasse tão enriquecedor.
Ontem, à revelia da Mana, tive o impulso de dar banho ao Manel. Nunca dei banho a um bebé: os meus papéis são sempre na assistência. Confesso que pensei que estaria mais nervosa do que o que estive. A empregada na cozinha nem se apercebeu da minha audácia. E acho que o Manel não esperava a Tia ousar dar-lhe banho.
Eu sei que isto é pueril mas foi das coisas mais surpreendentes que fiz na vida. Olhar aquele bebé que virava a cara para o jacto do chuveiro e se lambia para apanhar a água enquanto se revirava para chapinhar e buscar os brinquedos na banheira foi maravilhoso. Claro que a Tia acabou um bocado molhada no seu vestido fashionista e cunhas de meio metro de altura mas isso fez parte da diversão. Ali, ajoelhada no chão, ao nível de um bebé percebi o quanto gosto dele. Não que ainda não tivesse percebido, mas foi um perceber consciente; um perceber que tudo na vida mudou desde que ele existe; um perceber que amo a mãe dele mais do que tudo na vida e que ele, sendo ela em parte, me dói na dor boa de amar porque o amar a sério sente-se no físico do coração que aperta e no medo que a dor boa se transmute em dor de dor.

Manel, vamos ser tão amigos. A Tia gosta tanto, mas tanto, de ti. Não percebo bem o que dizes, nem sei no que pensas enquanto experimentas e descobres e falas contigo e connosco. Um dia a Tia vai perceber o que essas palavras chilreantes querem dizer. Até lá, e sempre, és o que somos de melhor. És-nos e nós somos-te.

11 de julho de 2012

Cadeirinha do Manel

Ando, por estes dias, com a cadeirinha do meu sobrinho na carrinha. Por vezes esqueço-me de que está lá. Mas noutras penso que é a presença viva nas nossas vidas que ali está naquela cadeirinha. E penso no que pensará quem se apercebe daquela cadeirinha no meu carro. Claro que ninguém pensa nada e o que há mais é carros com cadeirinhas de bebé no assento de trás. Mas fico a pensar se não me acharão mãe na consequência lógica da cadeirinha no carro. A mãe que eu não sou e não serei.
Será que há autocolantes com "Super Tia" para eu colar no vidro?

7 de julho de 2012

Progressos da seara

Ando a ver dos progressos da seara indo aos terrenos de duas em duas semanas. Passou a fase da flor e agora há umas cápsulas peludinhas parecidas a casulos à espera de amadurecerem. O que me espanta é a velocidade com que as plantas correm etapas.
No curioso das coincidências, aqui há dias vi um documentário sobre feijões e fiquei a saber que a variedade de feijão mais consumida no mundo é... o grão - muito à conta do amor mediterrânico por humus. Ora, justo no ano em que me vejo na agricultura, o que se semeou nos terrenos foi grão. Pode ser que seja um bom sinal...

6 de julho de 2012

Recordações felizes

 Regresso e não reconheço o espaço. Estranhou-se aos meus olhos. Faltam os pavões, o fotógrafo à la minute e o cavalinho. O rio é o mesmo. Largo como me lembrava. Serenamente enrugado de ondas lentas. Gaivotas. Faltam canteiros de flores e bebedouros a que eu não chegava. Modernizaram o espaço e eu perdi-o. Sento-me a absorvê-lo de volta na calmaria de pensamentos que recuam no tempo. Trouxeram-me aqui no dia em que a Mana nasceu na pressa de nascer neste país. Tiraram-me a fotografia. E eu estranhei tudo. As gentes. O cavalinho de pau que não era o golfinho mecânico e balouçante de Rheydt. A língua. Mas havia um parque infantil com um
escorrega gigante e ameaçador ocupado por miúdos audazes e chilreantes cujas palavras eu mal entendia. Desapareceu o parque infantil de areia no chão e escorregas gigantes. Tornou-se uma coisa almofadada e mínima que não permite aventuras e esconderijos. E havia um coreto imenso que eu imaginava preenchido por filarmónicas de instrumentos metálicos brilhantes. Reconheci que ainda lá está um coreto. No ar de velho acabado presumo que seja o mesmo, só que está tão triste e abandonado que música alguma o alegraria. Não sei se me reconheceu: a menina estrangeira que veio ver a Mana que tinha acabado de nascer. Passaram depois a trazer-nos ao Domingo a passear e ver os comboios e os pavões e o rio. Passeio eu agora nas alamedas de árvores que me viram. Os meus passos são outros agora. Eu sou outra mas trago sempre
comigo a menina pequenina que eu não sabia se ia tornar nisto ou iria regressar aqui num dia distante quando crescesse. Escolhi coisas para ela que a maltrataram. Cortei-lhe os sonhos das passadas que dava pelas alamedas sombreadas pelo arvoredo e do olhar que se perdia na margem longínqua do rio largo. Vejo-a de joelhos dobrados e mãos esticadas por entre as grades da jaula dos pavões. Dava-lhes miolo de pão e esperava o leque de penas abertas no esplendor azul. Cresceu a menina e algures no tempo passámos a ter pena uma da outra.

5 de julho de 2012

A Porta estava aberta

 Convidaste-me, eu que há tanto Vos tenho evitado. Chamaste-me, meu Deus. Mostraste-me a porta aberta, dizendo-me que o está sempre. Na esquina; no meu caminho. Entrei porque Vós me apetecíeis na alma. Lembrei-me de Vós, quando todos os dias Vos lembro e me silencio por não Vos querer pedir. Mas a porta está aberta e eu sei. Sei que posso pedir. Só que eu peço mais, esquecendo-me das graças. E isso amesquinha-me.
Ó meu Deus, que fácil esquecer as graças e concentrar-me no vale de sombras. Usei-me tanto do Vosso bordão que o pus de lado, pensando na minha indignidade de Vós. Não me levou longe o caminho. Não foi soberba. É o cansaço. A desesperança que é mais fácil do que a esperança de força. O madeiro é tão pesado, meu Deus. Caio tantas vezes no íngreme do chão áspero. O calvário é um sítio solitário mesmo que rodeado de gente. Concentro-me no lajedo e não nas caras porque a caminhada é penosa e é só minha.
Sabíeis que eu ia passar. Passo ali tantas vezes. Na pressa. Nos pensamentos outros. No alheamento. Tantas vezes que ali passei e nunca pensei entrar, e nunca a porta vi aberta. Acho que foi também o eu querer ir ter Convosco e não saber como ou não querer o como habitual e passado. Talvez que fôssemos os dois a abrir a porta naquela hora quando eu já me vinha embora e me detive porque me apeteceste.
Falei-Vos como sempre. Sem intercessões, como se Vos tivesse falado na familiaridade do ontem, quando o ontem está distanciado. O silêncio acolheu-me como entidade presencial. Não me sentia assim há tanto tempo. Agradeço-Vos aquela porta vestida de adamascado dançando na brisa do final da manhã. Perdoai-me por não pedir ajuda. Inspirai-me. Ajudai-me a reencontrar o ânimo de nada temer porque estais comigo. Perdoai-me precisar de Vós depois de todo este tempo. E perdoai-me ousar pedir perdão por me ter esquecido de Vos pedir o que, afinal, preciso. Amén.


3 de julho de 2012

Outro dia de tribunal

Outro dia em que não me descasaram. E é assim neste país. Palavras para quê? Agora, seguindo o ritmo normal em que se tem desenrolado o meu longo e vasto processo de divórcio (o cível), daqui a seis meses é marcada nova diligência à qual a parte contrária não comparecerá (ou de todo ou em parte), a diligência fica sem efeito e assim ad eternum.
Quatro anos já correram, por este andar deverei morrer casada ou então, e essa até seria irónica, morrerei viúva. Divorciada é que, pelos vistos, é coisa que não deve acontecer ao meu estado civil. País maravilhoso. Justiça ágil e suprema.