Fascina-me o conceito de Universidade, a Academia, o espaço sacrossanto laico que alberga o Conhecimento que a espécie produz. Tenho sempre da Universidade uma ideia ingénua e, apesar de viver nela e saber dos seus pés de barro mundanos, não deixo de lhe devotar um respeito que raia o religioso. Afinal, a Universidade é a vida que eu conheço, vivo e quis para mim. Ir a Salamanca e não ir à universidade é o proverbial ir a Roma sem ver o Papa: não pode ser.
Símbolo laico, pouco distingue o pórtico da universidade de Salamanca do pórtico da catedral que lhe faz companhia de proximidade. Duas imponentes catedrais tem Salamanca, a de Deus e a do Homem. Pasmo com uma. Pasmo com outra. Transcendem-me ambas e ali me quedo em vénia ao Tempo que por elas passou e à sua sobrevida a esse Tempo longo. Para o ano a universidade de Salamanca faz uns admiráveis 800 anos e por todo o lado já se vêm os calendários em contagem decrescente e os anúncios aos festejos de tão grada efeméride. Talvez vá lá só para respirar a festa.
Gosto do conceito de Universidade e aqui, na consciência da minha pequenez à entrada deste portal sagrado, esqueço-me da universidade com minúscula para devotar um Credo àquela com maiúscula...
29 de maio de 2017
24 de maio de 2017
22 de maio de 2017
Ávila
Ávila é pesada. Campeã das cidades muralhadas, detém o recorde de ter as muralhas com maior comprimento entre as cidades fortificadas. Talvez por isso a UNESCO lhe tenha dado o estatuto de Património da Humanidade. Impressiona sim mas não encanta. É o peso descomunal da pedra granítica e a opressão do círculo fechado que alberga uma catedral igualmente pesada de pedra cinzenta feita apenas para a imponência e não para o deslumbre.
Interessante como uma muralha mastodôntica destas, feita com lajes sepulcrais romanas para a inexpugnabilidade, nunca teve oportunidade de exercer os seus desígnios. Ou seja, foi uma muralha que ficou sempre à espera de que viessem medir forças com ela quando, tudo o que veio, foi o Tempo das eras e depois viemos nós, os turistas curiosos que a levam em fotos e recuerdos que acabarão na montra do frigorífico.
Aqui nasceu Teresa de Jesus, santa e doutora da Igreja, e tudo em Ávila gira em torno dessa santidade enclausurada pelas muralhas e cultuada dentro da pedra fria e dura da catedral.
Se me impressionei? Sim, completamente. Se me encantei? Sim, pelo tempo que aqui passei, pelo testemunho presencial da grandiosidade da pedra que oprime com o peso de cíclope ou pelos momentos de descanso na Plaza Mayor. Agora, encanto, encanto não sei...
Gostei do momento pelo que o momento significou de oportunidade e de companhia e isso é o inolvidável que daqui levo.
Interessante como uma muralha mastodôntica destas, feita com lajes sepulcrais romanas para a inexpugnabilidade, nunca teve oportunidade de exercer os seus desígnios. Ou seja, foi uma muralha que ficou sempre à espera de que viessem medir forças com ela quando, tudo o que veio, foi o Tempo das eras e depois viemos nós, os turistas curiosos que a levam em fotos e recuerdos que acabarão na montra do frigorífico.
Aqui nasceu Teresa de Jesus, santa e doutora da Igreja, e tudo em Ávila gira em torno dessa santidade enclausurada pelas muralhas e cultuada dentro da pedra fria e dura da catedral.
Se me impressionei? Sim, completamente. Se me encantei? Sim, pelo tempo que aqui passei, pelo testemunho presencial da grandiosidade da pedra que oprime com o peso de cíclope ou pelos momentos de descanso na Plaza Mayor. Agora, encanto, encanto não sei...
Gostei do momento pelo que o momento significou de oportunidade e de companhia e isso é o inolvidável que daqui levo.
18 de maio de 2017
A melhor vista da Segóvia
A melhor vista de Segóvia é que se tem do Alcazar. Chega-se e há algo de andaluz ainda que se esteja em Castela-Leão. Lembrei-me de Granada, os picos cobertos de neve, as muralhas da cidade. Segóvia é uma jóia merecidamente património mundial. Do Alcazar, a catedral comanda a cidade e o bairro judeu que desce até às muralhas dão-lhe esse ar de jóia.
Ficaria mais tempo naquela contemplação de obra humana misturada na paisagem natural. No entretanto, a mente levou-me à Mãe e ao entendimento de porque é que Ela sempre me disse amar Segóvia. Nunca aqui tinha vindo e, sem o esperar, encontrei-me com a Mãe e comprovei verdades. Segóvia é linda e aqui deixei um pouco do coração e da alma...
Ficaria mais tempo naquela contemplação de obra humana misturada na paisagem natural. No entretanto, a mente levou-me à Mãe e ao entendimento de porque é que Ela sempre me disse amar Segóvia. Nunca aqui tinha vindo e, sem o esperar, encontrei-me com a Mãe e comprovei verdades. Segóvia é linda e aqui deixei um pouco do coração e da alma...
15 de maio de 2017
Segóvia
Segóvia é o Aqueduto. E o Aqueduto é que faz de Segóvia património mundial UNESCO. está absurdamente bem preservado. Domina a cidade que cresceu à sua sombra e que tem vivido por e por causa dele.
Contudo, Segóvia é muito mais. É uma jóia de cidade. Não tem a monumentalidade estonteante de Salamanca onde nos perdemos no excesso dessa monumentalidade que nos diminui à escala ínfima boqueaberta e, às tantas, nos deixa saturados pelo contínuo gigantismo monumental que perpetuamente, a cada, passo, se abre e desenrola a nossos olhos. Segóvia tem uma escala mais humana. é mais leve, quiçá se por contágio com este aqueduto que parece pairar contra o céu. E Segóvia tem a paisagem envolvente e as neves das Montanhas de Guadarrama que tanto alimentaram o Aqueduto.
E tem uma catedral sem pretensões megalómanas, leve também como a cidade, como o aqueduto e como as montanhas vestidas de neve.
Um jóia bem no coração desta Península a que chamamos casa ibérica.
Contudo, Segóvia é muito mais. É uma jóia de cidade. Não tem a monumentalidade estonteante de Salamanca onde nos perdemos no excesso dessa monumentalidade que nos diminui à escala ínfima boqueaberta e, às tantas, nos deixa saturados pelo contínuo gigantismo monumental que perpetuamente, a cada, passo, se abre e desenrola a nossos olhos. Segóvia tem uma escala mais humana. é mais leve, quiçá se por contágio com este aqueduto que parece pairar contra o céu. E Segóvia tem a paisagem envolvente e as neves das Montanhas de Guadarrama que tanto alimentaram o Aqueduto.
E tem uma catedral sem pretensões megalómanas, leve também como a cidade, como o aqueduto e como as montanhas vestidas de neve.
Um jóia bem no coração desta Península a que chamamos casa ibérica.
11 de maio de 2017
As revisitações de Santa Teresa
Vir a Alba de Tormes não é só vir a uma vila pitoresca de Castela-Léon, não é só vir ao local de nascimento da Casa Ducal de Alba, é vir a um local onde tudo se torna diminuto face ao que aqui ocorreu a 4 de Outubro de 1582. Essa data e essa ocorrência definem hoje Alba de Tormes.
Aqui entregou Santa Teresa de Ávila, santa e doutora da Igreja, a sua alma ao Criador a quem se deu em vida e na vida além-morte. Tudo aqui gira em torno de Santa Teresa e dos seus últimos dias. Aqui descansaria em paz o seu corpo se os Homens tal deixassem. Esquartejada em morte, o coração e um braço estão expostos em relicários mórbidos para contemplação pública. Não pago para ver. Entro na igreja para prestar respeito. A morbidez não me inspira à oração. Fá-lo-ei noutra igreja onde entro e há luz e despojamento e não a penumbra opressiva desta em que supostamente descansa uma santa entre as santas da Igreja. Ao partir não deixo de pensar no que sentiria Teresa, a freira, a mulher desta terra ao saber o que lhe estava guardado nesta vida pós-vida.
Aqui entregou Santa Teresa de Ávila, santa e doutora da Igreja, a sua alma ao Criador a quem se deu em vida e na vida além-morte. Tudo aqui gira em torno de Santa Teresa e dos seus últimos dias. Aqui descansaria em paz o seu corpo se os Homens tal deixassem. Esquartejada em morte, o coração e um braço estão expostos em relicários mórbidos para contemplação pública. Não pago para ver. Entro na igreja para prestar respeito. A morbidez não me inspira à oração. Fá-lo-ei noutra igreja onde entro e há luz e despojamento e não a penumbra opressiva desta em que supostamente descansa uma santa entre as santas da Igreja. Ao partir não deixo de pensar no que sentiria Teresa, a freira, a mulher desta terra ao saber o que lhe estava guardado nesta vida pós-vida.
8 de maio de 2017
Alba de Tormes
Alba de Tormes é daquelas vilas tipicamente espanholas, daquele centro majéstico e monumental a que associamos o nascimento castelhano. Torres sineiras, torretes e torreões onde pontuam ninhos habitados por cegonhas fazem contraste contra o céu. apetece que os passos nos façam perder por entre ruas estreitas e mais estreitas vielas.
Estamos no berço da Casa de Alba, essa que conhecemos das revistas cor-de-rosa por causa da sua duquesa excêntrica mas que é um dos grandes portentos aristocratas num país de monarquia. A Casa vive mas aqui em alba d eTormes, o seu castelo ancestral há muito que foi destruído, restando apenas uma torre grossa e forte que decidiu não sucumbir às Invasões Francesas e aos estragos de Tempo e Gente. As vertigens crónicas impedem-me de subir mais do que cinco degraus rumo à ascensão que promete vistas magníficas sobre o Rio Tormes e as montanhas cobertas de neve à distância. Não faz mal.
Desço à Plaza Mayor, que terra que é terra aqui nesta terra tem de ter sempre uma praça-mor e maior, e roubo um intervalo de tempo para apreciar o passo lento de uma vila pitoresca enquanto tomo um "café solo" na esplanada da Casa Fidel. Olé, España!
Estamos no berço da Casa de Alba, essa que conhecemos das revistas cor-de-rosa por causa da sua duquesa excêntrica mas que é um dos grandes portentos aristocratas num país de monarquia. A Casa vive mas aqui em alba d eTormes, o seu castelo ancestral há muito que foi destruído, restando apenas uma torre grossa e forte que decidiu não sucumbir às Invasões Francesas e aos estragos de Tempo e Gente. As vertigens crónicas impedem-me de subir mais do que cinco degraus rumo à ascensão que promete vistas magníficas sobre o Rio Tormes e as montanhas cobertas de neve à distância. Não faz mal.
Desço à Plaza Mayor, que terra que é terra aqui nesta terra tem de ter sempre uma praça-mor e maior, e roubo um intervalo de tempo para apreciar o passo lento de uma vila pitoresca enquanto tomo um "café solo" na esplanada da Casa Fidel. Olé, España!
4 de maio de 2017
Semana Santa em Salamanca
A procissão veio inesperada. Estando aqui na Semana Santa e sabendo da devoção espanhola por esta quadra, não era bem por ela que aqui estava. Só que, estando aqui, é impossível escapar. O mar de gente é monumental. O ambiente da procissão lúgubre, e a palavra é um claro eufemismo. Chega a arrepiar a insistência na penitência, no sofrimento martirizado e martirizador.
Católica, romana, apostólica, não deixo, paradoxalmente, de observar na distância da terceira pessoa. Aquele Jesus tão ensaguentado do chicote, a cruz tão pesada e a mortificação da carne doem-me na alma e nos olhos que vêem. A ressurreição parece-me ausente deste culto da morte pelo suplício. Creio na ressurreição, não na morte. Perguntar-me-ão se quero os horários das procissões diárias desta Semana. Não. Recolho-me em pensamentos de Vida, de renovação e perpétuas circularidades que no-la trazem. Creio em fénixes e Cristos ressurectos. A morte só pode ter importância como Vida.
Detenho-me na procissão. Respeito e observo. E porque respeito e observo, recolho-me e suspendo-me na fé. Uma procissão destas à sombra desta catedral e neste espaço de pedras tão antigas convoca o Divino e o transcendente. É uma experiência de Vida, uma experiência na vida...
Católica, romana, apostólica, não deixo, paradoxalmente, de observar na distância da terceira pessoa. Aquele Jesus tão ensaguentado do chicote, a cruz tão pesada e a mortificação da carne doem-me na alma e nos olhos que vêem. A ressurreição parece-me ausente deste culto da morte pelo suplício. Creio na ressurreição, não na morte. Perguntar-me-ão se quero os horários das procissões diárias desta Semana. Não. Recolho-me em pensamentos de Vida, de renovação e perpétuas circularidades que no-la trazem. Creio em fénixes e Cristos ressurectos. A morte só pode ter importância como Vida.
Detenho-me na procissão. Respeito e observo. E porque respeito e observo, recolho-me e suspendo-me na fé. Uma procissão destas à sombra desta catedral e neste espaço de pedras tão antigas convoca o Divino e o transcendente. É uma experiência de Vida, uma experiência na vida...
1 de maio de 2017
Salamanca
Quando acordamos para uma vista como esta sabemos que a Vida tem o valor de valer a pena. Uma vista destas faz-nos ser gratos e a consciência da gratidão aporta felicidade. Tinha o desejo, de há nos longínquo, vir a Salamanca e eis-me que chego em gloriosa Primavera castelhana bem no centro da Meseta Ibérica. Mal posso esperar palmilhar o dia e as ruas, o casco histórico da cidade que trago em fascínio na mente.
Na minha última viagem, a obra humana diminuía-se face à vastidão antiga e imensa do espaço aberto, da Natureza em suprema glória. Aqui domina o Homem que sonhou a obra que aconteceu. Que planeta de contrastes. que gratidão à Vida e ao que Aqui nos trouxe.
Na minha última viagem, a obra humana diminuía-se face à vastidão antiga e imensa do espaço aberto, da Natureza em suprema glória. Aqui domina o Homem que sonhou a obra que aconteceu. Que planeta de contrastes. que gratidão à Vida e ao que Aqui nos trouxe.
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