31 de dezembro de 2015

Ano Velho 2015: LIBERDADE para morrer

Durante os seis anos que durou o meu infame divórcio pensei muitas vezes nos seis anos que passámos com o monstro da doença nesta Casa. Comparava a minha falta de liberdade com a falta da saúde e nunca cheguei a uma conclusão definitiva sobre se é pior o tolhimento da liberdade ou a presença da doença. Claro que, para mim, a morte da Mãe é incomparável a qualquer outro sofrimento. Nunca nada me foi ou é tão penoso, tão duro e dilacerante mas isso é porque, parece-me, nós sofremos sempre mais pelos que amamos do que por nós pelo o nosso sofrimento pessoal.
Quantas vezes pedi que fosse possível trocar de lugar com Ela e mitigá-La àquilo? Qualquer morte minha que A salvasse ser-me-ia doce e acolhida em alegria. O sofrimento por amor é incomparável e no meu divórcio eu não sofri por amor. A maldade era-me dirigida, a injustiça era comigo, a guerra era-me e a dor por nós próprios, ainda que tremenda, não nos esfarrapa o coração como a dor pelos que mais amamos. Porém, pensava eu muitas vezes, nessa comparação que tentava apurar se é a falta de saúde ou a falta de liberdade o que mais nos custa suportar, se a doença é vivida em liberdade, podemos morrer em paz. Ao invés, sem liberdade e justiça feita, não nos podemos dar à morte. E era isso que eu sentia, além de tudo o que me faltava em termos do usufruto da minha liberdade, eu tinha de viver por muito que me custasse ( e custou-me tantas vezes). Eu não podia ter nada que me matasse ou de que eu morresse porque isso seria incrementar a injustiça. Testamentei-me mas um casamento não-desfeito na lei nunca me podia dar a liberdade plena das minhas últimas vontades. Os meus herdeiros justos iriam para os tribunais como para os tribunais iria o meu herdeiro injusto. Eu daria voltas no túmulo por saber que deixava coisas incompletas. Não teria o descanso eterno, vivendo uma imortalidade de raiva sabendo que a injustiça tinha prevalecido sobre a minha Verdade, que era e foi a Verdade mesmo que esta seja uma coisa dúplice. Morreria no ódio e isso não é bom.
O meu divórcio ensinou-me, como nos ensinam todas as experiências que por Aqui passamos, que a liberdade e a justiça são bens fundamentais à vida do ser humano. Entendi os presos por consciência, os injustiçados, os martirizados. Rezei por todos, queimei holocaustos pela liberdade e pela justiça, já não as minhas, mas pela Liberdade e pela Justiça como valores supra-individuais.
Costumo sempre escrever os meus pensamentos de fim de ano, as ocorrências que me marcaram e que me moldaram a vida nos 365 dias anteriores. Em 2015, uma única coisa se sobrepõe a tudo o que vivi: LIBERDADE.
A Liberdade traz-nos acréscimos à vida na forma de felicidade(s). Os meus projectos de vida podem acontecer, posso desejar sem estar refém, posso... Posso fazer o que me apetecer sem medo, posso... Posso até morrer que ficaria tudo bem. E só quem esteve preso sabe o que isto é...

Feliz 2016! Liberdade! Justiça!

29 de dezembro de 2015

O que eu aprendo com ela

O rito é uma forma de comportamento circular que o Homem inventou para se sentir pertença, para se sentir seguro, para dar sentido à existência. Com a Ältere Leute partilho um rito há muitos anos e, quando o deixarmos de fazer, acho que algo verdadeiramente derradeiro terá acontecido a uma de nós.
Ultimamente andamos de poiso fixo, o que até nem é mau e ajuda à previsibilidade ritualista. Ademais, é um daqueles sítios em que ainda se pode conversar sem que o tudo exterior se sobreponha ao som da nossa conversa. Momentos fantásticos, sempre. Pomos a conversa em dia como se nos tivéssemos visto no dia anterior e nunca nos falta o que tagarelar.
Por coincidências do local, este ano apresentou-me a alguém do seu círculo:
- Esta é a minha Blonde.
E eu detive-me no pronome, sorrindo. Já não é primeira vez que me faz destas inclusões e me coloca mais uma entre "as minhas meninas". É recíproco o possessivo porque ela é minha, muitas coisas. Começou por ser minha orientadora e agora é minha amiga e minha companheira de partilhas. Engraçado, falámos da Zana, que ela conheceu através de mim e, aqui há dias, a Zana veio visitar-me de Natal e falámos da Ältere Leute.
- É tão interessante que tenham ficado amigas - diz-me na constatação de que ninguém desenvolve este tipo de amizades com ex-professores, ex-orientadores. - E parece-me ser tão boa pessoa - acrescenta baseada na sua própria experiência de interagir com ela através destes meios digitais e destas comunidades net modernas.
- É - sorrio. - Se é!
Deu-me um prato pintado à mão na nossa troca de presentes da época.
- Für Plätzchen - entregou-me a sorrir.
E serviu para os ditos cujos. Estreei o prato na mesa dos doces de Natal devidamente preenchido com Speisekuchen de chocolate em forma de coração: ein Herz für Freundschaft.
Quando cheguei a casa vinda do nosso encontro mandei-lhe um SMS a dizer que tinha chegado e que tinha adorado estarmos juntas e... agradeci-lhe ter aprendido algo com ela.
- Aprender?! - foi o SMS de retorno.
Sim, aprender. Este ano ela viu-me na felicidade plena do divórcio maldito acabado, da vida sorridente que se manifesta na ausência de textos mais densos neste blogue-diário de muitas dores nas curvas da estrada.
- As pessoas felizes não têm história - disse-me quando falámos desta minha fase de vida. Concordo. A felicidade não traz introspecção, nem profundidade emocional. A felicidade faz-me fazer trabalhos manuais e passar o tempo sem pensar na vida e isso não dá história. Vê como aprendo consigo sempre, e como me faz pensar em coisas tantas, e tantas vezes? Respondi ao SMS?
Obrigada, minha querida Ältere Leute! Venha 2016 e venham mais vezes de ritual.

26 de dezembro de 2015

Mega-presente

Duvido que alguém perceba o que o logo significa. Mas eu ainda estou parva que um futuro destes habite, agora, numa Casa destas. Eu que vivo a recuperar passados para deixar legados e eis que me invade o espaço este futuro. Se vivi o melhor Natal do mundo? Sim, mas não foi por causa do futuro (deste futuro em particular). Foi porque estivemos juntos, em paz e saúde e família: a família que vem do passado, a que se faz no presente e a que ruma ao futuro. Sou nada e ninguém sem eles. Falta sempre a Mãe, presença omnitudo nas nossas vidas, mas a Vida é isso, é seguirmos um percurso de Tempo e reconhecermos que a família é sempre a mesma, transfigurada como nas leis de Lavoisier.

No final de tudo, Graças e um pedido apenas: perpetuação.
Que Natal, meu Deus, que Natal...
Obrigada.

24 de dezembro de 2015

23 de dezembro de 2015

Sem stress de Natal

Enquanto uns se afadigam em compras natalícias e outras últimas horas...
Fiz as compras todas em Junho e já tenho tudo a postos. Que bom ser Natal.

22 de dezembro de 2015

Outra Ressurreição

Eu tinha sete anos e acabado de aprender as horas. Ganhei este presente por já ser menina crescida e porque saber ver as horas significa aprender responsabilidade. Levei com o mantra da responsabilidade a vida inteira e, farta do dito, há seis anos fiz o impensável acto de rebeldia e abandonei o uso de relógio. De tal sorte foi a libertação que dei e doei os meus relógios só tendo ficado com os de família e com este: o meu primeiro relógio. Tive pena dele e do abandono. Levei-o a cromar e a pôr bracelete nova. Não vai para o meu pulso mas quero que seja uma recordação estimada. Afinal, apesar do mantra da responsabilidade, eu cresci feliz...

19 de dezembro de 2015

Os meus filhos...

- Ah, eu aos meus filhos dou...
A conversa era sobre os presentes que damos às crianças da família. Os interlocutores eram colegas minhas, todas mães.
A frase saiu-me sem que eu me desse conta. Chamei-lhes filhos quando, em rigor, eles são-me sobrinhos. Só que o coração desconhece coisas de semântica e os meus sobrinhos, que também se enganam às vezes e me chamam mãe, são-me sentidos como filhos. O engraçado foi que quando me dei conta de lhes ter chamado filhos não me corrigi e nem me corrigiram as minhas colegas. A coisa foi tão natural como se eu pertencesse a uma casta universal que é das mães-mães, sendo eu uma tia-mãe.
Os meus filhos... Não o são, mas são-no.

17 de dezembro de 2015

My first set of wheels EVER / As minhas primeiras 4 rodas

Encontrei esta placa de matrícula perdida e abandonada à sua sorte de pó no sótão da garagem aqui de Casa. Ignoro porque é que o Pai a tenha guardado. Por recordação, claro. Encontrei-a e alegrei-me. Foi neste carro que ele, o Pai, me ensinou a conduzir. Levava-me para os terrenos e, numa alameda entre o pomar de macieiras, fazia-me andar para a frente e em marcha-atrás que era para eu não ir burra tirar a carta. Depois guardou o carro para, uns anos depois, dar o mesmo tratamento à minha irmã. E foi neste carro que eu levei com um tractor em cima bem no meio de um cruzamento aqui no campo. Tractor em marcha à ré a uns estonteantes 10kms hora, diga-se em abono da verdade e como explicação para o acidente mais em câmara lenta da história da locomoção automotorizada, e inspiração para uma cena de um projecto da Blonde por detrás da Blondewithaphd.

Envernizei a placa e pendurei-a no tal mural de coisas anciãs aqui de Casa.

15 de dezembro de 2015

A long, long time ago...

Not in a galaxy far away:
Encontrei um anúncio para uma sessão de cinema a ocorrer no dia 11 de Agosto do ano da glória de 1957, um Domingo por sinal. Tenho andado a trabalhar num projecto da Blonde por detrás da Blondewithaphd mas nem foi por isso que isto foi encontrado. Foi apenas a coincidência de o projecto ter a ver com Alenquer e eu morar numa Casa com muitas vidas passadas, muitas histórias e uma ex-biblioteca do Pai, agora meu escritório-biblioteca, recheada de Passado.
Achei delicioso o cartaz e mandei emoldurar. Está, agora, pendurado num mural de coisas anciãs que tenho cá em Casa. E achei maravilhoso que tenha sobrevivido às décadas. A linguagem, porém, tão nitidamente de um passado perdido quando o Português não tinha as adulterações deste presente, foi o que mais me impressionou, é o que mais me impressiona. Não é divino este "Abrem os espectáculo: Excelentes complementos"?...

11 de dezembro de 2015

Natal 2015: Fazendo presentes

Há que pôr os infantes a fazer pela vida. Pintemos as mãos, coisa particularmente adorada pela petizada (mas não sem antes a Tia forrar tudo a papel de publicidade que assim se vê com préstimo na vida).
Depois carimbemos aventais, que mal sabem pais e avós que é o que lhes vai calhar em sortes de presentes no Natal.
E eis que ficam mãos de dois e cinco anos imortalizadas em acrílico sobre têxtil. Sobrinhos e Tia convencidos de que pais e avós vão gostar dos presentes dos petizes para a gente grande. 

:)

9 de dezembro de 2015

Natal 2015: Árvore

A Tia pintou um tronco de dourado (há anos que não entram pinheiros em casa da Tia).
Depois os sobrinhos fizeram as decorações e eis a primeira árvore de Natal completamente decorada por estas pessoas pequeninas.
Ficou um bocadinho kitsch, que os petizes queriam usar as decorações todas, mas é a árvore mais especial do mundo! (e a Tia vai-se conter para não redecorar...)
Parabéns, meninos!

7 de dezembro de 2015

Natal 2015: Porta decorada

Ando a ver muitos programas de reciclagem, só pode...
Então, o que se faz com os tubos de rolos de papéis diversos, película aderente e coisas dessas da banalidade do quotidiano?
Pois... pode fazer-se uma decoração natalícia para a porta da entrada que substitua uma de compra da qual eu já me fartei e que já não me diz nada. Acho que os meus sobrinhos vão gostar dos trabalhos manuais da Tia e nem sonham que amanhã cá os espero com uma série de actividades manuais preparadas que incluem tintas e a grande probabilidade de a Tia deitar as mãos à cabeça com o caos espintalgado que deve ocorrer...
Aqui a obra-prima devidamente sprayzada de dourado para condizer com a estação:

4 de dezembro de 2015

Nutella caseira Blonde

O problema é que a malta é doida por Nutella só que a dita cuja é um antro de perdição com tanta coisa lá metida que de avelãs e chocolate só tem mesmo o sabor.
Nutella caseira:
150grs de avelãs moídas
75grs de chocolate preto em barra
1 colher de sopa de maple syrup
1 colher de café de extracto de baunilha
2 colheres de sopa de água

Derreter o chocolate com as duas colheres de sopa de água. Quando derretido juntar o maple syrup e o extracto de baunilha e mexer para emulsionar bem. Depois juntar as avelãs (bem moídas e com consistência de farinha). Rectificar o maple syrup se for preciso mais doce.

Não chegou a conhecer o caminho do frigorífico porque desapareceu quase instantaneamente...

(O maple syrup pode ser substituído por mel).