28 de novembro de 2018
Indiana Dunes National Lakeshore
Quando penso em parques nacionais norte-americanos, penso em coisas de espanto: o Grand Canyon, Monument Valley, Big Bend e todos esses onde a natureza me tem chamado à minha pequenez. Aqui, nas costas deste imenso lago silencioso, invade-me o cheiro suave a vegetação e água-doce. Imagino como será viver nas casas magníficas que circundam o lago e o espreitam por entre as árvores das colinas envolventes. Construo imagens do lago gelado no Inverno, emoldurado por coníferas cobertas de neve e cristais de gelo. Em todos esses cenários reina o silêncio que aqui me acolhe. A beleza nem sempre precisa da monumentalidade boquiaberta...
24 de novembro de 2018
Pedro Rolo Duarte: um ano já e tão longo
Era sexta-feira quando o telefone tocou. A voz do outro lado dizia que tinhas morrido. Tinhas morrido, imagina! como se tu pudesses morrer assim sem mais nem menos. Mas era isso que eu ouvia: tinhas morrido. O choque foi paradoxal. Levou uns momentos a instalar-se ao mesmo tempo que era súbito. De repente tinhas-me-nos morrido e eu não sabia o que fazer com essa realidade.
Telefonei a gente que te tinha em comum comigo e era voz de desalento e surpresa o que eu ouvia.
Vesti-me de linda para ir ter contigo à noite como nas vezes em que saíamos e tu me achavas bonita. Só tu para me fazeres rir no teu velório. só tu para me dares uma derradeira despedida desconstruída para nos rirmos sonoramente. Entrei no velório errado, um daqueles velórios do excesso de morte. Eu linda e tudo e todos em modo sorumbático de olhares de estranheza à minha aparição. Achei aquilo tudo mórbido demais mas enfim, era o teu velório e aquelas pessoas que eu não conhecia tinham tanto direito a conhecer-te como eu.
O outro Pedro da minha vida deixou-me estar nos meus pensamentos que falavam contigo. Deu-me tempo antes de, de mansinho, me tocar no ombro e me dizer que eu estava no velório da pessoa errada. Saí envergonhada e meio a pensar que me deviam ter considerado qualquer coisa como "a outra" que se ia despedir. Ri baixinho pela situação trágico-cómica.
Depois encontrei-te ao som de Sting e das músicas que gostavas e que comigo partilhavas quando me fazias CDs com as tuas playlists. Sempre tiveste bom-gosto nesse departamento. Tinhas chamado os amigos e era como se nos encontrássemos para um serão em que eras o anfitrião. Despedi-me de ti por entre o sorriso da cena anterior e o coração despedaçado.
No dia seguinte, fui ao ginásio, como costumo aos Sábados de manhã. No final da aula, os alongamentos foram feitos ao som de uma música que me lembrou de ti. Desabei em público porque foi aquela música que me disse que nunca mais aqui estarias fisicamente. Recebi tanto amor nessa hora. As colegas da aula, que por respeito à tristeza que imaginavam eu estaria a sentir, não tinham tocado no assunto da tua morte, saltaram sobre mim num abraço colectivo. O meu luto por ti começava.
Passou um ano e eu lembro-me tantas vezes de ti...
Telefonei a gente que te tinha em comum comigo e era voz de desalento e surpresa o que eu ouvia.
Vesti-me de linda para ir ter contigo à noite como nas vezes em que saíamos e tu me achavas bonita. Só tu para me fazeres rir no teu velório. só tu para me dares uma derradeira despedida desconstruída para nos rirmos sonoramente. Entrei no velório errado, um daqueles velórios do excesso de morte. Eu linda e tudo e todos em modo sorumbático de olhares de estranheza à minha aparição. Achei aquilo tudo mórbido demais mas enfim, era o teu velório e aquelas pessoas que eu não conhecia tinham tanto direito a conhecer-te como eu.
O outro Pedro da minha vida deixou-me estar nos meus pensamentos que falavam contigo. Deu-me tempo antes de, de mansinho, me tocar no ombro e me dizer que eu estava no velório da pessoa errada. Saí envergonhada e meio a pensar que me deviam ter considerado qualquer coisa como "a outra" que se ia despedir. Ri baixinho pela situação trágico-cómica.
Depois encontrei-te ao som de Sting e das músicas que gostavas e que comigo partilhavas quando me fazias CDs com as tuas playlists. Sempre tiveste bom-gosto nesse departamento. Tinhas chamado os amigos e era como se nos encontrássemos para um serão em que eras o anfitrião. Despedi-me de ti por entre o sorriso da cena anterior e o coração despedaçado.
No dia seguinte, fui ao ginásio, como costumo aos Sábados de manhã. No final da aula, os alongamentos foram feitos ao som de uma música que me lembrou de ti. Desabei em público porque foi aquela música que me disse que nunca mais aqui estarias fisicamente. Recebi tanto amor nessa hora. As colegas da aula, que por respeito à tristeza que imaginavam eu estaria a sentir, não tinham tocado no assunto da tua morte, saltaram sobre mim num abraço colectivo. O meu luto por ti começava.
Passou um ano e eu lembro-me tantas vezes de ti...
21 de novembro de 2018
Passear ao longo do Lago Michigan
Há sítios que nos apaixonam pela beleza, pelos contrastes, pelo inesperado, pela radicalidade, pela sedução do perigo. O Lago Michigan apaixona pela calma, pelo silêncio das ondas baixas, muito suaves, felizes na sua tranquilidade. Conduzimos quilómetros e quilómetros ao longo das margens deste mar interior rodeado de terra por todos os lados, um lago que ora lembra paragens oceânicas, ora lembra locais meridionais.
Aqui, não muito longe de Michigan City, há qualquer coisa de tropical na placidez azul do lago e nas praias de areia fina de um dourado indeciso entre o amarelo e o castanho. Chegar às margens implica atravessar a floresta e quando esta se abre para nos deixar chegar à água é todo um vislumbre azul que nos enche os olhos. E o silêncio... é a experiência deste silêncio, que nos deixa ouvir zumbidos de libélulas e os nossos passos amortecidos na cama de areia, o que mais impressiona. O mundo já não tem silêncios destes.
Aqui, não muito longe de Michigan City, há qualquer coisa de tropical na placidez azul do lago e nas praias de areia fina de um dourado indeciso entre o amarelo e o castanho. Chegar às margens implica atravessar a floresta e quando esta se abre para nos deixar chegar à água é todo um vislumbre azul que nos enche os olhos. E o silêncio... é a experiência deste silêncio, que nos deixa ouvir zumbidos de libélulas e os nossos passos amortecidos na cama de areia, o que mais impressiona. O mundo já não tem silêncios destes.
17 de novembro de 2018
Indiana e a primeira visão do Lago Michigan
Estamos na região dos Grandes Lagos, a maior superfície de água doce do mundo. No Niágara e no Ohio, o lago chama-se Ontário. É grande, enorme, mas é um anão comparado com o Michigan.
Depois de atravessarmos o Estado do Ohio, entramos no do Indiana e chegamos a uma cidadezinha apropriadamente chamada Michigan City. Procuramos as margens do lago e damos connosco numa praia que tem de familiar o parecer uma praia oceânica. Estes lagos são tão gigantescos que têm marés, tempestades, ondas, histórias de naufrágios, faróis, portos e praias tal como qualquer mar de água salgada. É impossível ver as margens do outro lado, cortadas que estão pelo horizonte da esfera terrestre. Há gaivotas e algas, areia e seixos.
A sensação é estranha porque o cérebro tem de estar constantemente a lembrar-se de que o que os olhos vêem é um lago. O cheiro a maresia é substituído por um cheiro intenso de água e humidade e a areia não se nos cola nos pés por ausência de salinidade. Repito os pensamentos que tive a primeira vez que vi o Lago Michigan. Foi há uma década e eu estava em Chicago. Fiquei boquiaberta com a sua envergadura líquida, a expansão azul ilimitada que os meus olhos viam e a mente a saber que este mar não vai dar a lado nenhum.
Vejo os veraneantes que se portam aqui como em qualquer lusitana praia, como em qualquer estância mediterrânica e penso na variedade de experiências que a Natureza nos oferece. Haja mundo!
Depois de atravessarmos o Estado do Ohio, entramos no do Indiana e chegamos a uma cidadezinha apropriadamente chamada Michigan City. Procuramos as margens do lago e damos connosco numa praia que tem de familiar o parecer uma praia oceânica. Estes lagos são tão gigantescos que têm marés, tempestades, ondas, histórias de naufrágios, faróis, portos e praias tal como qualquer mar de água salgada. É impossível ver as margens do outro lado, cortadas que estão pelo horizonte da esfera terrestre. Há gaivotas e algas, areia e seixos.
A sensação é estranha porque o cérebro tem de estar constantemente a lembrar-se de que o que os olhos vêem é um lago. O cheiro a maresia é substituído por um cheiro intenso de água e humidade e a areia não se nos cola nos pés por ausência de salinidade. Repito os pensamentos que tive a primeira vez que vi o Lago Michigan. Foi há uma década e eu estava em Chicago. Fiquei boquiaberta com a sua envergadura líquida, a expansão azul ilimitada que os meus olhos viam e a mente a saber que este mar não vai dar a lado nenhum.
Vejo os veraneantes que se portam aqui como em qualquer lusitana praia, como em qualquer estância mediterrânica e penso na variedade de experiências que a Natureza nos oferece. Haja mundo!
14 de novembro de 2018
Ir dormir ao Ohio
Entramos no Estado do Ohio, uma passagem no rumo que levamos destinado até ao estado do Illinois a muitos, muitos quilómetros de distância. Vamos dormir a Cleveland e o que levamos daqui é mesmo a estrada. Ainda procuro algo interessante ou pitoresco mas o Hall of Fame, que afama Cleveland, não é uma coisa que me desperte grande curiosidade. Assim, é só isso, o Ohio é uma travessia. Cleveland uma pernoita.
10 de novembro de 2018
Niagara
É a terceira vez que vou às cataratas do Niágara mas a primeira em que estou do lado norte-americano. Do lado do Canadá assistimos ao espectáculo das quedas de água como se fossem um palco e nós observadores a plateia. É uma visão de cenário em frente a nós a que se tem do lado canadiano. De outra vez, embarquei num daqueles barcos que vão rio dentro até ficarem perigosamente perto da água em queda e, agora, observo o monumento de água feroz da verticalidade da queda.
Do lado americano não vemos as quedas de água à nossa frente. Estamos por cima delas, vamos até à beira de onde elas se precipitam. Não há visão de cenário, ou visão de distância, há a vertigem do precipício, o rugir trovejante das toneladas líquidas que se jogam velozes precipício abaixo. ao cabo destas três vezes, acho que já mais nenhum ângulo me falta. Podia ainda ir fazer um tour de helicóptero mas eu temo a radicalidade das vertigens e nada me compele ou seduz nessa ideia.
Lembro-me da primeira vez em que vi as cataratas. o cumprimento de um sonho de sempre e o fascínio que nos produzem esses momentos. Hoje venho mostrá-las ao meu marido e observar o fascínio que elas exercem num outro alguém.
Estamos de regresso ao carro para nos irmos embora quando um americano olha para nós e nos diz se não queremos os bilhetes que ele comprou para o eléctrico que dá a volta ao parque em que se insere o complexo das cataratas e a Goat's Island. Aceitamos. O senhor que ora nos oferece os bilhetes pensou duas vezes e acha que não tem joelhos capazes de aguentar estarem muito tempo sentados nos bancos de madeira do eléctrico. Fazemos a round trip e pensamos que, tirando o tal do helicóptero não nos falta fazer mais nada aqui. Levamos a memória de um portento da natureza que vale a pena ver mais que não seja uma vez na vida. Eu já repeti três vezes e é sempre uma excitação dar conta da nossa pequenez face a este tipo de colossos vivos...
Do lado americano não vemos as quedas de água à nossa frente. Estamos por cima delas, vamos até à beira de onde elas se precipitam. Não há visão de cenário, ou visão de distância, há a vertigem do precipício, o rugir trovejante das toneladas líquidas que se jogam velozes precipício abaixo. ao cabo destas três vezes, acho que já mais nenhum ângulo me falta. Podia ainda ir fazer um tour de helicóptero mas eu temo a radicalidade das vertigens e nada me compele ou seduz nessa ideia.
Lembro-me da primeira vez em que vi as cataratas. o cumprimento de um sonho de sempre e o fascínio que nos produzem esses momentos. Hoje venho mostrá-las ao meu marido e observar o fascínio que elas exercem num outro alguém.
Estamos de regresso ao carro para nos irmos embora quando um americano olha para nós e nos diz se não queremos os bilhetes que ele comprou para o eléctrico que dá a volta ao parque em que se insere o complexo das cataratas e a Goat's Island. Aceitamos. O senhor que ora nos oferece os bilhetes pensou duas vezes e acha que não tem joelhos capazes de aguentar estarem muito tempo sentados nos bancos de madeira do eléctrico. Fazemos a round trip e pensamos que, tirando o tal do helicóptero não nos falta fazer mais nada aqui. Levamos a memória de um portento da natureza que vale a pena ver mais que não seja uma vez na vida. Eu já repeti três vezes e é sempre uma excitação dar conta da nossa pequenez face a este tipo de colossos vivos...
7 de novembro de 2018
A máquina para a viagem na estrada
Depois de uns dias em Nova Iorque, a "irrequietação" pede-nos a estrada aberta e sem destino. No aeroporto de JFK alugamos a viatura que nos acompanhará nas próximas duas semanas. Pode ser irracional mas pensamos sempre que para o tipo de viagens que fazemos, um carro grande oferece mais segurança do que um pequeno, por isso optamos sempre por segmentos menos compactos. Isto, em milhares de quilómetros nunca se sabe o que pode suceder e, além disso, numa roadtrip é no carro que se passa a maior parte do tempo e convém algum conforto.
Pensamos um bocado em grande desta vez e optamos por um SUV. No concessionário dão-nos um Ford Explorer que, para nosso espanto, tem matrícula do Québec. Ainda perguntamos como raio é que em Nova Iorque se dá a coincidência de alugarmos um carro canadiano, ainda por cima francófono. Depressa damos conta da pergunta parva. Então não somos useiros e vezeiros em alugar um carro num sítio e deixá-lo a milhares de quilómetros de distância? Alguém terá feito o mesmo a este Explorer. Ou seja, arranjámos companheiro habituado a estas circunstâncias das viagens em que o destino é a própria da estrada.
No resultado desta matrícula exótica vamos passar por canadianos várias vezes nos dias seguintes. De cada vez que nos cumprimentam com um afável "Bonjour!", sabemos a razão: somos canadianos!
Pensamos um bocado em grande desta vez e optamos por um SUV. No concessionário dão-nos um Ford Explorer que, para nosso espanto, tem matrícula do Québec. Ainda perguntamos como raio é que em Nova Iorque se dá a coincidência de alugarmos um carro canadiano, ainda por cima francófono. Depressa damos conta da pergunta parva. Então não somos useiros e vezeiros em alugar um carro num sítio e deixá-lo a milhares de quilómetros de distância? Alguém terá feito o mesmo a este Explorer. Ou seja, arranjámos companheiro habituado a estas circunstâncias das viagens em que o destino é a própria da estrada.
No resultado desta matrícula exótica vamos passar por canadianos várias vezes nos dias seguintes. De cada vez que nos cumprimentam com um afável "Bonjour!", sabemos a razão: somos canadianos!
3 de novembro de 2018
Nem tudo é giro em Nova Iorque
Quando andamos a passear nem tudo o que vemos tem de ser giro, interessante, digno do nosso gosto. Não muito longe da Rockefeller Plaza, encontro estes exemplares de arte de rua, mais chiquemente denominada "street art". É suposto que estas estátuas de um cão e uma coelha representem os jornalistas, a imprensa. A mim assustam-me. Não percebo as analogias e fico a pensar nas coisas que se fazem em nome da imaginação ou só para se dizer que se é criativo...
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