E quando os alunos batem com os nós dos dedos na mesa ao final da aula isso só pode ser duas coisas: gostaram; são alemães. Hoje aconteceu outra vez e é nesses momentos que tenho breves relapsos sorridentes.
Danke, ihr habt keine Ahnung... ou cenas da vida de Prof. em Agosto. :)
31 de agosto de 2015
25 de agosto de 2015
Entre a praia e o campo
O dia amanheceu assim:
Até ia estar bom mesmo que eu não seja entusiasta de praia. Ia só pela companhia e pelo convite. Fui, dando-me o trabalho que me dá deslocar-me aqui do meu campo para a praia lusitana varrida de oceano. O mar a mim que me faz partir, o oceano afugenta-me. Naturalmente que, antes de chegar, já estava a contar o tempo no decrescente para me vir embora. Depois ficou assim:
O oceano, claro. Só que havia a companhia e o convite e parecia mal eu vir-me embora antes do tempo para eu me vir embora. O toque no telemóvel:
- Blondita, estás em casa? Temos aqui pêras e uvas, tomate e maçãs. Diz qualquer coisa quando chegares.
O campo a chamar e eu no oceano.
Outra chamada:
- Minha querida, estás em casa? Temos aqui javali para te levar. Diz qualquer coisa quando chegares.
Não, tenho pena mas não há oceano que compare ao meu campo. Vou embora antes do tempo previsto para ir embora. O campo chama-me e é-me sereia. Vou.
Recebo frutas, legumes, alguns dez quilos de javali e até uma excentricidade:
O campo...
Até ia estar bom mesmo que eu não seja entusiasta de praia. Ia só pela companhia e pelo convite. Fui, dando-me o trabalho que me dá deslocar-me aqui do meu campo para a praia lusitana varrida de oceano. O mar a mim que me faz partir, o oceano afugenta-me. Naturalmente que, antes de chegar, já estava a contar o tempo no decrescente para me vir embora. Depois ficou assim:
O oceano, claro. Só que havia a companhia e o convite e parecia mal eu vir-me embora antes do tempo para eu me vir embora. O toque no telemóvel:
- Blondita, estás em casa? Temos aqui pêras e uvas, tomate e maçãs. Diz qualquer coisa quando chegares.
O campo a chamar e eu no oceano.
Outra chamada:
- Minha querida, estás em casa? Temos aqui javali para te levar. Diz qualquer coisa quando chegares.
Não, tenho pena mas não há oceano que compare ao meu campo. Vou embora antes do tempo previsto para ir embora. O campo chama-me e é-me sereia. Vou.
Recebo frutas, legumes, alguns dez quilos de javali e até uma excentricidade:
O campo...
21 de agosto de 2015
Epílogo de um Divórcio: Chegaram as custas
Ainda tem dias que penso em raiva "Mas quando é que isto vai acabar?". E quanto mais vejo a meta do fim, mais ela se afasta tal horizonte sempre inalcansável e distante.
Recebo carta do tribunal emitida a 14 de Agosto (data a reter) dando-me dez dias mais cinco de dilação para pagar custas de um dos processos relativos ao meu infernal divórcio, cronologicamente o segundo dos processos. Umas belas centenas de euros a serem pagos já. A carta, porém, não indica o método de pagamento, sendo, apenas uma cópia de uma guia que, em versão mais completa, seguiu para os meus advogados.
É Agosto. Não quero incomodar as férias dos advogados. Telefono para o tribunal a saber como posso pagar as custas. Diálogo transcrito para memória futura:
- A Senhora, se leu bem a carta até ao fim, vê que a carta foi para os seus advogados - informa, em condescendência debitada de alto, a funcionária que me atende o telefonema.
- Certo, bem sei. Mas estamos em Agosto e não os quero incomodar - respondo, engolindo o furacão que sempre desponta em mim quando me tratam como uma molécula acerebral.
- Ó minha Senhora, eles depois entram em contacto consigo.
- Só que quando eles chegarem já passou o prazo. Se bem li, e parece-me que li, tenho dez dias mais cinco a contar da data da recepção da carta.
- Ah, não é assim. Tem até 15 de Setembro.
- Perdão? Isso não está na carta porque eu ainda sei ler - continuo, a voz inalterada pelo grilhão que lhe ponho e as oitavas que lhe desço.
- É que estamos em férias judiciais e todos os prazos estão suspensos.
- Ah, e eu tenho de adivinhar que uma carta elaborada a 14 de Agosto para um acto administrativo que me dá prazos também se enquadra nas férias, ou isso estava escrito e eu é que não li? - a pergunta colocada no mais seráfico que a voz me proporciona.
- Silêncio.
Desligo devidamente informada. E ainda me faltam as custas do segundo processo, o primeiro da cronologia.
Mas quando é que isto vai acabar?
Recebo carta do tribunal emitida a 14 de Agosto (data a reter) dando-me dez dias mais cinco de dilação para pagar custas de um dos processos relativos ao meu infernal divórcio, cronologicamente o segundo dos processos. Umas belas centenas de euros a serem pagos já. A carta, porém, não indica o método de pagamento, sendo, apenas uma cópia de uma guia que, em versão mais completa, seguiu para os meus advogados.
É Agosto. Não quero incomodar as férias dos advogados. Telefono para o tribunal a saber como posso pagar as custas. Diálogo transcrito para memória futura:
- A Senhora, se leu bem a carta até ao fim, vê que a carta foi para os seus advogados - informa, em condescendência debitada de alto, a funcionária que me atende o telefonema.
- Certo, bem sei. Mas estamos em Agosto e não os quero incomodar - respondo, engolindo o furacão que sempre desponta em mim quando me tratam como uma molécula acerebral.
- Ó minha Senhora, eles depois entram em contacto consigo.
- Só que quando eles chegarem já passou o prazo. Se bem li, e parece-me que li, tenho dez dias mais cinco a contar da data da recepção da carta.
- Ah, não é assim. Tem até 15 de Setembro.
- Perdão? Isso não está na carta porque eu ainda sei ler - continuo, a voz inalterada pelo grilhão que lhe ponho e as oitavas que lhe desço.
- É que estamos em férias judiciais e todos os prazos estão suspensos.
- Ah, e eu tenho de adivinhar que uma carta elaborada a 14 de Agosto para um acto administrativo que me dá prazos também se enquadra nas férias, ou isso estava escrito e eu é que não li? - a pergunta colocada no mais seráfico que a voz me proporciona.
- Silêncio.
Desligo devidamente informada. E ainda me faltam as custas do segundo processo, o primeiro da cronologia.
Mas quando é que isto vai acabar?
20 de agosto de 2015
Até chorei!
Regressada à Lusitanidade, apeteceu-me algo, pois bem..., espanhol. De vez em quando dá-me uns assomos por pimientos de Padrón e vai daí fiz um almoço dos ditos. Jesus, Maria, José (pronúncia castelhana, se faz favor)! Não havia um, um único, que não picasse a valer. Até chorei! Que é feito da velha máxima que "unos pican y otros no"? Cruzes!
19 de agosto de 2015
Dia 16: Ter o Spotty à espera
O que chegar tem de bom é a recepção calorosa (como se não houvesse amanhã) que o Spotty propicia com tanto entusiasmo. Tem vezes que age como se estivesse muito ofendido com a ausência e ignora que regressei, dando-me um olímpico desprezo demonstrativo do seu desagrado. Levanta a cabeça, olha-me de soslaio e vira-me as costas altaneiramente. Não desta vez. Saltos e círculos à volta dos meus pés. Carinho a rodos. Felicidade canina em estado puro. O amanhecer depois é que trouxe a visualização do estrago (coisa habitual mas sempre inesperada pois a imaginação deste cão não conhece limites).
Aquilo era um canteiro de lírios. Havia diversos pés de lírios azuis devidamente plantados e rodeados de casca de pinheiro. Havia... O canteiro virou trincheira devastada em cenário bélico e o pior é que deixei a carrinha estacionada no quintal mesmo ao pé do canteiro. Está coberta de terra e pó e se o Senhor Meu Pai a visse lá ia eu ouvir que um carro é o espelho do dono (maneira cordato-sarcástica que o Senhor Meu Pai tem de dizer que eu não sou exemplo para ninguém em termos de manutenção automobilística).
E agora quem é que vai ter de andar de pá e vassoura a varrer os desatinos do Senhor D. Spotty José, quem é? Bem... ao menos desta vez não comeu os sprinklers da rega nem roeu os candeeiros da relva nem meteu o nariz em vespeiros nem se ensarilhou no tapete nem esfrangalhou o colchão (que eu saiba... aguardo relatório mais pormenorizado enquanto vou fazer uma vistoria mais detalhada aos vastos domínios da criatura).
Este cão é um portento...
Aquilo era um canteiro de lírios. Havia diversos pés de lírios azuis devidamente plantados e rodeados de casca de pinheiro. Havia... O canteiro virou trincheira devastada em cenário bélico e o pior é que deixei a carrinha estacionada no quintal mesmo ao pé do canteiro. Está coberta de terra e pó e se o Senhor Meu Pai a visse lá ia eu ouvir que um carro é o espelho do dono (maneira cordato-sarcástica que o Senhor Meu Pai tem de dizer que eu não sou exemplo para ninguém em termos de manutenção automobilística).
E agora quem é que vai ter de andar de pá e vassoura a varrer os desatinos do Senhor D. Spotty José, quem é? Bem... ao menos desta vez não comeu os sprinklers da rega nem roeu os candeeiros da relva nem meteu o nariz em vespeiros nem se ensarilhou no tapete nem esfrangalhou o colchão (que eu saiba... aguardo relatório mais pormenorizado enquanto vou fazer uma vistoria mais detalhada aos vastos domínios da criatura).
Este cão é um portento...
17 de agosto de 2015
Dia 15: Houston-Londres-Lisboa
4.600kms atingidos no momento de entrega do carro, valente!! Entrar em New Orleans ao volante foi uma coisa para recordar. Agora é o regresso, o desconforto de longas horas de voo, de controlos fronteiriços, de diferenças horárias: abomino. Ainda penso passar o dia em Londres durante a escala para Lisboa. Coisas que eu fazia na juventude quando não me importava de entrar e sair dos aeroportos enquanto aguardava voos de ligação. Não estou mais para isso. Sigo à risca o mantra da Mãe: "O conforto acima de tudo".
Afinal, a Mãe é o reflexo que encontro no espelho a cada manhã. Quero um quarto, uma cama e talheres de metal, conforto. A paragem trata-me do corpo para que a mente sonhe com os dias passados. Regresso. Os contornos da cidade familiar que me lembram as linhas da canção do George Michael: "I've gotta be thankful that this crowded space is the place I call home..."
E eu estou grata por tudo o que os olhos viram e o coração sentiu nestes últimos dias, grata por ter um regresso à espera e por nunca mais ter de viajar com dois passaportes no porta-documentos a atestar que eu sou Eu.
Obrigada...
Afinal, a Mãe é o reflexo que encontro no espelho a cada manhã. Quero um quarto, uma cama e talheres de metal, conforto. A paragem trata-me do corpo para que a mente sonhe com os dias passados. Regresso. Os contornos da cidade familiar que me lembram as linhas da canção do George Michael: "I've gotta be thankful that this crowded space is the place I call home..."
E eu estou grata por tudo o que os olhos viram e o coração sentiu nestes últimos dias, grata por ter um regresso à espera e por nunca mais ter de viajar com dois passaportes no porta-documentos a atestar que eu sou Eu.
Obrigada...
15 de agosto de 2015
Dia 14: Little house on the prairie
Não é bem a pradaria mas é uma réplica da casa do Stephen Austin, o fundador do Texas. San Felipe de Austin é a fundação do Texas, foi incendiada aquando das guerras da independência e agora só resta o chão e as réplicas da general store e da casa do Austin. Obrigatório parar ao fazer os Independence Trails do Texas. Cada vez me espanto mais em admiração por esta terra onde me deixam sair da loja sem pagar a conta toda só para eu não trocar notas grandes. Talk about southern hospitality...
14 de agosto de 2015
Dia 13: Galveston
Quando gosto muito de um sítio penso se conseguiria ali viver uma temporada. Sim, numa vivenda destas, virada para as águas mornas do Golfo, seria. Acho que me ficou um pedaço de coração em Galveston.
Há muitos anos, em Saint Augustine na Flórida, fui ver moradias e encantei-me por uma chamada The Magnolia, até trouxe a planta da casa para Portugal guardando-a numa gaveta de acessibilidades não esquecidas. Gosto da Flórida ao ponto de imaginar que poderia ser feliz ali, mas hoje fui arrebatada por Galveston, num longínquo Texas que não conhece a Flórida. Galveston, vou sonhar...
Há muitos anos, em Saint Augustine na Flórida, fui ver moradias e encantei-me por uma chamada The Magnolia, até trouxe a planta da casa para Portugal guardando-a numa gaveta de acessibilidades não esquecidas. Gosto da Flórida ao ponto de imaginar que poderia ser feliz ali, mas hoje fui arrebatada por Galveston, num longínquo Texas que não conhece a Flórida. Galveston, vou sonhar...
13 de agosto de 2015
Dia 12: Land of the free, home of the brave
Talvez seja aqui no Texas que mais me vejo a aplicar os versos do hino americano pois esta é realmente a terra em que mais elevada conta em a liberdade. O Texas já foi uma república independente. Infeliz sob o jugo mexicano e a propriedade da nação estado-unidense que despontava, deu o grito do Ipiranga em 1836 tornando-se na República do Texas (1836-1846). Fui lá, a Washington-on-the-Brazos, a meio caminho entre Houston e San Antonio, a fronteira para o Wild West.
Ali, no meio de nenhures, à sombra de carvalhos frondosos e magnólias imensas, a vontade dos homens traçou um caminho de liberdade. Identifico-me; eu que vivi sem ela durante quase sete anos. E mais me identifico com o que esse grande pensador da constituição do espírito americano disse. Subscrevo por baixo pois nada há que possa prender eternamente a alma humana.
Ali, no meio de nenhures, à sombra de carvalhos frondosos e magnólias imensas, a vontade dos homens traçou um caminho de liberdade. Identifico-me; eu que vivi sem ela durante quase sete anos. E mais me identifico com o que esse grande pensador da constituição do espírito americano disse. Subscrevo por baixo pois nada há que possa prender eternamente a alma humana.
Pensei muito em liberdade hoje. E hoje sou verdadeiramente... livre.
12 de agosto de 2015
Dia 11: Hey, Houston, we've had a problem
E o problema é que eu vinha com umas expectativas danadas ao Lyndon B. Johnson Space Center em Houston. Pois...
Há catorze anos quando fui ao Kennedy Space Center em Cape Canaveral na Flórida saí de lá em extâse. Agora, ingenuamente, pensava que ia ser a mesma coisa Yeah, right...
Calhou-me um parque de diversões daqueles de que eu fujo a sete pés. Valeu ter tocado noutra das oito pedras da lua trazidas das missões Apollo e acessíveis ao público. E valeu (ó se valeu!) a tempestade megalómana de trovões e relâmpagos brutais à saída do Space Center com direito a ventania e tudo. O céu de tempestade: indescritível. Só faltou o Garth Brooks a cantar.
Como eu ando mortinha por ir ao Kansas fazer tornado chasing já deu para ter um mini-gostinho. Mas que é uma vista a Nasa quase abandonada e com uma tempestade a formar-se mesmo por cima, é.
Há catorze anos quando fui ao Kennedy Space Center em Cape Canaveral na Flórida saí de lá em extâse. Agora, ingenuamente, pensava que ia ser a mesma coisa Yeah, right...
Calhou-me um parque de diversões daqueles de que eu fujo a sete pés. Valeu ter tocado noutra das oito pedras da lua trazidas das missões Apollo e acessíveis ao público. E valeu (ó se valeu!) a tempestade megalómana de trovões e relâmpagos brutais à saída do Space Center com direito a ventania e tudo. O céu de tempestade: indescritível. Só faltou o Garth Brooks a cantar.
Como eu ando mortinha por ir ao Kansas fazer tornado chasing já deu para ter um mini-gostinho. Mas que é uma vista a Nasa quase abandonada e com uma tempestade a formar-se mesmo por cima, é.
11 de agosto de 2015
Dia 10: Chegar ao Texas
E esta é a bela recepção ao chegar ao Great State of Texas:
41º graus à sombra e ter cuidado com as cobras. Sim, isto aqui só mesmo para cowboys (eeha!).
41º graus à sombra e ter cuidado com as cobras. Sim, isto aqui só mesmo para cowboys (eeha!).
10 de agosto de 2015
Dia 9: New Orleans e um dia Huckleberry Finn
New Orleans. Nawlins. Nola. The Big Easy. Não me impressiona muito, confesso. Mas acordo a cantarolar o "Karma Chameleon" dos Culture Club e com as aventuras do Huckleberry Finn na cabeça (os responsos da Tia Polly quando o apanhava a rezar por anzóis porque só se pode rezar por coisas espirituais). Vir a New Orleans e não andar num steamboat do Mississippi não era para mim.
E assim dou comigo no meio do mighty Mississippi a bordo do Natchez. É mais o rito do que outra coisa. A eterna menina das trancinhas louras que vem comigo desde o começo do meu Tempo. Trouxe-a ao cenário do Tom Sawyer e do Huck Finn e fico feliz, como ando feliz por estes dias e por esta terra vasta. New Orleans é a América fora da open road, a América do anything goes, do alfa e do ómega. Já a vi sobejamente, vejo-a agora e vou-me embora.
E assim dou comigo no meio do mighty Mississippi a bordo do Natchez. É mais o rito do que outra coisa. A eterna menina das trancinhas louras que vem comigo desde o começo do meu Tempo. Trouxe-a ao cenário do Tom Sawyer e do Huck Finn e fico feliz, como ando feliz por estes dias e por esta terra vasta. New Orleans é a América fora da open road, a América do anything goes, do alfa e do ómega. Já a vi sobejamente, vejo-a agora e vou-me embora.
Regresso à estrada, onde, algures entre Lafayette e Lake Charles há um trecho de estrada ao som do "Thunder rolls" do Garth Brooks e um pôr-do-sol que nem nos filmes do Oeste...
9 de agosto de 2015
Dia 8: Alexandria (Louisiana) e o meu ex-não-casamento
Há esta série:
Sou fã. Passa no Canal História e é sobre a família DeRamus e a sua loja de penhores em Alexandria, no coração do Louisiana a trezentos e muitos quilómetros a noroeste de Nova Orleans. Mas já lá vamos.
O que uma road trip tem de excitante é nunca se saber como será o dia que amanhece. Tem sido assim. Vir sem hotéis marcados dá uma liberdade imensa para se fazer o que se quer e ir onde apetece. Porém, não vou dizer que não queria ir a Alexandria e que não trazia um propósito escondido para esta viagem. Trazia. E trazia-o na bagagem, bem almofadadinho para não se partir, já que ia conhecer o seu destino nesta terra e bem longe da minha vida comum. Ei-lo:
O topo do meu bolo de não-casamento e pior divórcio. Trouxe-o comigo desde Portugal para lhe dar um tremendo destino de ironia e distância. Levei-o à casa de penhores dos DeRamus em Alexandria, Louisiana, a casa com o General Lee dos Dukes of Hazard à porta. Estava lá, o General Lee, e estavam lá os DeRamus: pai, filha e irmão do pai, a trindade. Não sabia se estariam lá. E se estivessem e não fossem simpáticos como na série? Puro engano.
- Please tell me I'm the first Portuguese to walk in through the door?
-You're the first Portuguese to walk in through the door. Yes, M'am!
Trataram-me como royalty. Contaram-me a ascendência e as histórias da vida como se eu fosse próxima da vida deles.
Disse-lhes que trazia uma coisa, just for the fun of it.
- Hmm... the top of your wedding cake.
- My first and ex-wedding cake - corrijo entre os risos que a situação provoca.
- So that's how bad you want to get rid of it, hum?
Entra na personagem e logo me faz viver a cena típica dos episódios.
- And do you want to pawn it or sell it?
- Sell it!
E quanto quer pelo objecto?
- Five cents.
Chama a filha para avaliar o objecto e brincamos à série por uns instantes de maravilha regada a riso.
No final... e ao contrário da série, em que nunca dá o que lhe pedem pelos objectos, faz-me uma oferta de dez dólares.
Fico meia aparvalhada porque eu sairia da loja feliz deixando lá o mono desgraçado por um cêntimo, ou por nada, o mono é que eu não traria de volta. Jamais. Antes atirá-lo ao Mississippi.
- I take it! - Exclamo na perplexidade, enquanto a verbalização do pensamento veloz assume forma oral:
- My marriage was worth ten bucks.
E é isso, o meu casamento valeu dez dólares numa loja de penhores no fim do mundo num dia de 39º à sombra.
Para os anais da história, as provas do crime:
Sou fã. Passa no Canal História e é sobre a família DeRamus e a sua loja de penhores em Alexandria, no coração do Louisiana a trezentos e muitos quilómetros a noroeste de Nova Orleans. Mas já lá vamos.
O que uma road trip tem de excitante é nunca se saber como será o dia que amanhece. Tem sido assim. Vir sem hotéis marcados dá uma liberdade imensa para se fazer o que se quer e ir onde apetece. Porém, não vou dizer que não queria ir a Alexandria e que não trazia um propósito escondido para esta viagem. Trazia. E trazia-o na bagagem, bem almofadadinho para não se partir, já que ia conhecer o seu destino nesta terra e bem longe da minha vida comum. Ei-lo:
O topo do meu bolo de não-casamento e pior divórcio. Trouxe-o comigo desde Portugal para lhe dar um tremendo destino de ironia e distância. Levei-o à casa de penhores dos DeRamus em Alexandria, Louisiana, a casa com o General Lee dos Dukes of Hazard à porta. Estava lá, o General Lee, e estavam lá os DeRamus: pai, filha e irmão do pai, a trindade. Não sabia se estariam lá. E se estivessem e não fossem simpáticos como na série? Puro engano.
- Please tell me I'm the first Portuguese to walk in through the door?
-You're the first Portuguese to walk in through the door. Yes, M'am!
Trataram-me como royalty. Contaram-me a ascendência e as histórias da vida como se eu fosse próxima da vida deles.
Disse-lhes que trazia uma coisa, just for the fun of it.
- Hmm... the top of your wedding cake.
- My first and ex-wedding cake - corrijo entre os risos que a situação provoca.
- So that's how bad you want to get rid of it, hum?
Entra na personagem e logo me faz viver a cena típica dos episódios.
- And do you want to pawn it or sell it?
- Sell it!
E quanto quer pelo objecto?
- Five cents.
Chama a filha para avaliar o objecto e brincamos à série por uns instantes de maravilha regada a riso.
No final... e ao contrário da série, em que nunca dá o que lhe pedem pelos objectos, faz-me uma oferta de dez dólares.
Fico meia aparvalhada porque eu sairia da loja feliz deixando lá o mono desgraçado por um cêntimo, ou por nada, o mono é que eu não traria de volta. Jamais. Antes atirá-lo ao Mississippi.
- I take it! - Exclamo na perplexidade, enquanto a verbalização do pensamento veloz assume forma oral:
- My marriage was worth ten bucks.
E é isso, o meu casamento valeu dez dólares numa loja de penhores no fim do mundo num dia de 39º à sombra.
Para os anais da história, as provas do crime:
E é assim que o mono que encimou o bolo do meu mui infeliz não-casamento conheceu o seu destino longe de mim. Os DeRamus dizem que não vão vendê-lo e que o vão juntar à sua exposição de coisas não vendáveis na sua loja: a Silver Dollar na Lee Street em Alexandria. Da próxima vez que lá passarem, o mono de noivos parvos e ridiculamente felizes veio de Portugal, não viveu feliz para sempre e a noiva ganhou juízo e chama-se Blonde. Deu um chuto ao noivo e vendeu o mono por duas notas de cinco. Goodbye and good riddance!
To the DeRamus family, my heartfelt gratitude for an afternoon well-spent; the definite highlight of the day. You're the gem of Louisiana. God bless!
(PS - Naturalmente, este post só podia ter duas tags: Diários de Viagem e Diários de um Divórcio.)
8 de agosto de 2015
Dia 7: Alabama, Mississippi, Louisiana
O termómetro está teimoso nos 38º e a Interstate 10 é longa nas rectas sem fim. Sair da Flórida para a "Sweet Home Alabama" (mesmo bom para eu ficar com a canção na cabeça o resto do dia), depois o Great State of Mississippi, Jackson County, nem mais, até entrar em francês na Louisiana.
Grande estafa, grande imensidão.
7 de agosto de 2015
Dia 6: Homosassa e manatins
A estrada percorre-se com a devida banda sonora: Tim McGraw, Garth Brooks, Keith Urban, Jason Aldean, Blake Shelton, Lady Antebellum (e eu espanto-me, quase à vergonha, da extensão que desconhecia da minha veia country, God!). Horas e horas e sai-se da Flórida pantanosa para a Flórida das Highlands (welcome to the Florida Highlands). Quero ir a Crystal River (o Attenborough, who else?) mas descubro, na coincidência que é sempre inesperada, Homosassa. E Homosassa será. O efeito, o mesmo de Crystal River: os manatins...
Estou no céu (again).
Do dilúvio de hoje só o cheiro a terra molhada e quente à chegada a Tallahassee (Tally para não fazer confusão com tanta consoante e vogal dobrada). Cansada. Feliz. Livre.
Estou no céu (again).
Do dilúvio de hoje só o cheiro a terra molhada e quente à chegada a Tallahassee (Tally para não fazer confusão com tanta consoante e vogal dobrada). Cansada. Feliz. Livre.
6 de agosto de 2015
Dia 5: Siesta Key
Só aqui quis vir por dois motivos:
1º - é uma daquelas praias que está sempre no Top 10 das melhores praias dos Estados Unidos, especial por ter uma areia branca finíssima (e péssima para olhos que não gostam de claridade excessiva) feita a 99% de quartzo;
2º - era daqui que eu queria levar um pedaço de mar e areia para juntar à colecção. Levo água do Golfo do México e areia de quartzo que, do outro lado do Atlântico e em pleno campo meu amado, se juntarão ao Adriático, ao Mar Vermelho, ao Nilo e ao Mar Egeu.
No resto, o dilúvio hoje foi por volta das três da tarde, mesmo antes da chegada a Tampa, e o calor subiu no mercúrio ainda mais do que lá em baixo pelas Keys e pelos Everglades (e palpita-me que se vai tornar mais quente...).
1º - é uma daquelas praias que está sempre no Top 10 das melhores praias dos Estados Unidos, especial por ter uma areia branca finíssima (e péssima para olhos que não gostam de claridade excessiva) feita a 99% de quartzo;
2º - era daqui que eu queria levar um pedaço de mar e areia para juntar à colecção. Levo água do Golfo do México e areia de quartzo que, do outro lado do Atlântico e em pleno campo meu amado, se juntarão ao Adriático, ao Mar Vermelho, ao Nilo e ao Mar Egeu.
No resto, o dilúvio hoje foi por volta das três da tarde, mesmo antes da chegada a Tampa, e o calor subiu no mercúrio ainda mais do que lá em baixo pelas Keys e pelos Everglades (e palpita-me que se vai tornar mais quente...).
5 de agosto de 2015
Dia 4: Key Largo aos Everglades
Acordar no paraíso sem saber o que o dia trará. A paisagem muda, não o calor pesado de água. Outro dilúvio a meio da reserva índia feita para turista. Não me interessa. Siga a viagem debaixo da tromba de água. Pára a chuva e sei que vou cumprir um item da bucket list.
Os Everglades... Quero embrenhar-me, ver, cheirar, percorrer.Estas são hoje as minhas auto-estradas: mangais, sapais, o pântano sem fim. O que é que eu diria agora ao David Attenborough, ele que sabe que eu, de tudo, amei mais Rodes sem saber porquê. What would you say now Sir David? E sinto a presença da miúda das trancinhas louras que trago comigo. Tem nove anos e a vida toda programada como se fosse certa a programação. Hoje não a defraudei. Hoje não. Cumpri-a para que ela cumprisse o programa. I was here, Sir David.
Sorri o tempo todo. Não havia mais ninguém e tudo fui Eu enquanto o momento foi meu. O vento passava na velocidade do air boat no mangal. A menina das trancinhas louras estava lá quando a borboleta lhe pousou no braço e enquanto as aves levantavam voo à aproximação invasora. Na mente uma e uma só palavra: obrigada...
Os Everglades... Quero embrenhar-me, ver, cheirar, percorrer.Estas são hoje as minhas auto-estradas: mangais, sapais, o pântano sem fim. O que é que eu diria agora ao David Attenborough, ele que sabe que eu, de tudo, amei mais Rodes sem saber porquê. What would you say now Sir David? E sinto a presença da miúda das trancinhas louras que trago comigo. Tem nove anos e a vida toda programada como se fosse certa a programação. Hoje não a defraudei. Hoje não. Cumpri-a para que ela cumprisse o programa. I was here, Sir David.
Sorri o tempo todo. Não havia mais ninguém e tudo fui Eu enquanto o momento foi meu. O vento passava na velocidade do air boat no mangal. A menina das trancinhas louras estava lá quando a borboleta lhe pousou no braço e enquanto as aves levantavam voo à aproximação invasora. Na mente uma e uma só palavra: obrigada...
4 de agosto de 2015
Dia 3: Miami a Key West
Deixar o bulício citadino, quente de cimento e gente e partir pela Highway 1 até à Milha 0, o fimdo mundo, a finisterra dos Estados Unidos, o ponto mais a sul do país-potência. Isso é sair do continente e atravessar as Keys por uma ponte estrada de ilhas e suspensões sobre a água. Os trópicos domados à cultura do carro e da mobilidade. É lindo, apesar de tudo.
O Atlântico de um lado e o Golfo do México do outro. Os azuis e verdes impossíveis e a sensação da tropicalidade. Água. O dilúvio ao fim do dia quando o dia se viveu em busca do Hemingway e da casa cheia de gatos com seis dedos que vivem por todo o lado, numa ilha com galinhas à solta e turistas em busca do fim do mundo. O sítio original da Key Lime Pie, quando, como se esperava, se tem uma amiga que a faz melhor do que o original (you rock Ré!).
Depois é desfazer a estrada do Sul que se tornou a estrada que segue só para Norte, é ter visto o fim do mundo amansado para consumo de fotografias que dirão já aqui estive e ir dormir a Key Largo, como na canção dos Beach Boys e ficar num tesouro com vista para a água destes all-American tropics. Felicidade...
O Atlântico de um lado e o Golfo do México do outro. Os azuis e verdes impossíveis e a sensação da tropicalidade. Água. O dilúvio ao fim do dia quando o dia se viveu em busca do Hemingway e da casa cheia de gatos com seis dedos que vivem por todo o lado, numa ilha com galinhas à solta e turistas em busca do fim do mundo. O sítio original da Key Lime Pie, quando, como se esperava, se tem uma amiga que a faz melhor do que o original (you rock Ré!).
Depois é desfazer a estrada do Sul que se tornou a estrada que segue só para Norte, é ter visto o fim do mundo amansado para consumo de fotografias que dirão já aqui estive e ir dormir a Key Largo, como na canção dos Beach Boys e ficar num tesouro com vista para a água destes all-American tropics. Felicidade...
3 de agosto de 2015
Dia 2: Miami Beach by night
E lá tinha de ser, a peregrinação da praxe ao Historic District dos edifícios Art Deco da Ocean Drive em Miami Beach, essa bela aglomeração que nem é em Miami. Humidade em barda, para não destoar, calor e o barulho competitivo entre esplanadas e restaurantes (credo!) e, no meio, os ditos cujos edifícios.
Pois... pode ser muito famosa e toda jet set (nem em Vegas vi tanto Rolls e tanto Maseratti) mas não é bem a minha "beach". Amanhã seguem-se as Keys e, palpita-me, essas já são mais eu. O jet-lag é que era escusado...
Pois... pode ser muito famosa e toda jet set (nem em Vegas vi tanto Rolls e tanto Maseratti) mas não é bem a minha "beach". Amanhã seguem-se as Keys e, palpita-me, essas já são mais eu. O jet-lag é que era escusado...
Dia 2: Miami e outros animais
O pequeno-almoço toma-se num pátio-jardim visitado por geckos nem aí para humanos turistas, enquanto na praia a fauna veraneante se cuida que a outra, a marinha, não a incomode.
Enquanto isso, já não me lembrava do "peso" do calor da Flórida, encharcado de água (e o aguaceiro a meio da manhã nem podia faltar) e o Celsius nuns absurdos 34º que fazem a vida uma insustentável in-leveza não fosse o bom do ar-não-condicionado ao clima do rodinhas de serviço.
Amanhã é "ciao" Miami e olá aos great outdoors e ao começo da aventura pela estrada fora...
Enquanto isso, já não me lembrava do "peso" do calor da Flórida, encharcado de água (e o aguaceiro a meio da manhã nem podia faltar) e o Celsius nuns absurdos 34º que fazem a vida uma insustentável in-leveza não fosse o bom do ar-não-condicionado ao clima do rodinhas de serviço.
Amanhã é "ciao" Miami e olá aos great outdoors e ao começo da aventura pela estrada fora...
2 de agosto de 2015
Dia 1: chegar
Com o meu passaporte é outra alegria. Os bilhetes da viagem (comprados em Fevereiro) ainda me carregam uma cruz de passado e tenho de trazer o passaporte antigo não vá o oficial da alfândega dos Estados Unidos torcer o nariz (que não torceu e eu entrei aqui com o meu nome que leio várias vezes enquanto seguro o passaporte).
Sinto-me tremendamente feliz. Agradeço em constância. Sou poupada de filas de check-in, de main cabins, de low costs e de charters. Parece-me que a American Airlines melhorou o serviço desde que eu me lembrava. Não me chatearam com as cargas dos aparelhos electrónicos. Smooth... Só que entrar neste país é sempre um suplício. Agora entendo porque é que há uma série sobre o aeroporto de Miami. É o caos entrar por aqui e eu que não sou propriamente uma neófita em aportar a este país. Enfim, pelo menos era o um "nice customs officer" (Do you have a sister like you? Rubia?) e a coisa só foi má nas filas e nos "kiosks" de controlo de passaportes que não funcionam.
No resto, a humidade quente, a cidade grande de que fugirei daqui a dois dias e a felicidade de ter chegado:
"Bienvenidos a Miami!"
Sinto-me tremendamente feliz. Agradeço em constância. Sou poupada de filas de check-in, de main cabins, de low costs e de charters. Parece-me que a American Airlines melhorou o serviço desde que eu me lembrava. Não me chatearam com as cargas dos aparelhos electrónicos. Smooth... Só que entrar neste país é sempre um suplício. Agora entendo porque é que há uma série sobre o aeroporto de Miami. É o caos entrar por aqui e eu que não sou propriamente uma neófita em aportar a este país. Enfim, pelo menos era o um "nice customs officer" (Do you have a sister like you? Rubia?) e a coisa só foi má nas filas e nos "kiosks" de controlo de passaportes que não funcionam.
No resto, a humidade quente, a cidade grande de que fugirei daqui a dois dias e a felicidade de ter chegado:
"Bienvenidos a Miami!"
1 de agosto de 2015
Dia 1: ir!
É um dia inteiro de desconforto mas é a ida e ir é sempre uma alegria. Madrugar na Portela (ó descontente contentamento...) e ir jantar a Miami (perdida nas horas). Nestes dias tenho sempre um pensamento fugidio para o Thomas Cook (bless'd) e imagino com ansiedade quando é que chega a teletransportação. Para hoje, no entanto, é mesmo Miami or bust!
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